Ideias Livres

sexta-feira, julho 29, 2005

Fala o roto ao nu

De acordo com o The Economist,

France's stockmarket regulator, AMF, said it will investigate trading in shares of the food group Danone, which rose by 27% in the two weeks after feverish speculation began that PepsiCo was about to make a takeover bid. Meanwhile, Jacques Chirac criticised short-term investors for destabilising the long-term interests of French firms.

É, de facto, incrível a forma leviana como determinadas pessoas dizem e fazem coisas que prejudicam brutalmente os interesses das empresas e da economia em geral... não há pior espécie que a dos especuladores de curto prazo, principalmente quando o fazem para ganhar eleições...

quinta-feira, julho 28, 2005

Mário Lino, o OTArio

Já muito foi dito em relação à Ota e ao projecto do TGV. Pelo que já li, vi e, principalmente, não vi, parecem-me projectos com poucas pernas para andar, em especial o primeiro. Seja como for, só um esclarecimento cabal da opinião pública e, porque não, um referendo nacional, poderão permitir a continuação destas aventuras socialistas, no sentido ideológico e não no partidário do termo.

Quanto ao ministro que mais tem insistido em ser uma espécie de Ferreira do Amaral fora de prazo, o papel de esbanjador público e de criador desta espécie de Plano Quinquenal encaixa-lhe na perfeição. Afinal de contas, este homem foi Director do Gabinete de Planificação do Ministério da Indústria e Comércio da República de Moçambique entre 1977 e 1979 (nomeado por Moscovo?) e Presidente do Conselho de Administração da Editorial Avante, SA em 1990, já depois da queda do muro de Berlim... pelo meio, muita movimentação sindical, comissões, associações e, quando se soltou da teta comunista para a mama socialista, IPE's e Águas de Portugal. Se todos os portugueses fossem como ele, nem para um comboio de praia teríamos dinheiro...

quarta-feira, julho 27, 2005

A Eternização de um Erro

O Ministério da Educação está em vias de propor legislação que proibirá que os professores cobrem pelas explicações prestadas a alunos das suas turmas, da escola ou escolas onde dão aulas ou do respectivo agrupamento escolar.

Os sindicatos dos professores, claro está, concordam com a medida. Ela permitirá, segundo eles, criar vagas para muitos professores que estão desempregados. Além de acabar com a maldita raça dos professores milionários - que o são em virtude de trabalharem 60 horas por semana em vez das 30 do costume...

Por experiência própria posso-vos dizer que, se não tivesse tido explicações no meu 12º ano, provavelmente não teria conseguido entrar no Técnico, tendo ido para uma universidade privada ou para fora de Lisboa, com custos muito mais elevados para os meus pais.
Digo-vos ainda que tive explicações a Química, com uma ex-professora minha e a Matemática com uma outra professora do meu liceu. De acordo com as futuras regras, nenhuma delas me poderia dar explicações. Eu ter-me-ia visto impedido de aprender mais do que o mínimo ensinado nas escolas.

O grau de pormenor do ensino dado nas escolas depende da qualidade média das turmas e, numa turma que apresente alguns alunos com mais dificuldades, é sobre eles que se vira a atenção dos professores, homogeneizando por baixo o conhecimento dos alunos. Aqueles que pretendam um grau de conhecimento elevado, têm muitas vezes de recorrer a ensino dedicado, extra-escolar, ao domicílio.

As principais consequências desta medida poderão ser:

1. Diminuição do desemprego entre os professores, que conduzirá a uma nova procura de cursos conducentes a essa carreira, a qual provocará a eternização do excesso de docentes no mercado, com o custo inerente para o erário público.

2. Aumento das explicações "clandestinas", sem recibo e sem o respectivo pagamento fiscal, com diminuição de receitas para o Estado, feitas tanto por professores contratados que não pretendem perder o seu vínculo como por professores sem vínculo que não pretendem perder o subsídio de desemprego.

3. Maiores dificuldades criadas aos estudantes que pretendam sobressair da mediania/mediocridade nacional, sem que sejam jovens sobredotados.

4. Aumento da diferença de qualidade entre o ensino privado, onde os professores acompanham os alunos fora das aulas, tirando-lhes dúvidas, e o ensino público, com óbvio prejuízo para a classes média e baixa.

5. Criação de grandes empresas de explicações que distribuirão os alunos por professores que aos olhos da lei não tenham conflitos de interesses.

Tirando esta última consequência, que poderá catalisar uma maior maturidade do negócio das explicações, mas que duvido que tenha estado nas cogitações da ministra, todas as outras contribuem para a degradação do sistema de ensino público. À medida que os intervenientes tentarem esgueirar-se pelos meandros das novas regras, o ministério acrescentará mais normas de fiscalização e novas proibições, associadas a regimes de excepção pouco claros, com mais custos para o cidadão.

Agora começamos a perceber como é que José Sócrates pensa criar 300 000 novos empregos...

terça-feira, julho 26, 2005

Teoria da Relatividade

20 anos depois de Freitas do Amaral e Mário Soares se terem defrontado nas eleições presidenciais de 1986, ambos foram novamente falados como possíveis candidatos nas próximas eleições para o cargo.

Porém, hoje, o posicionamento político dos dois senhores não é, de todo, o que apresentavam há 20 anos. Freitas do Amaral, fundador de um dos partidos mais à direita no espectro político do pós-25 de Abril, é hoje ministro de um governo socialista e Mário Soares, pelas opiniões assumidas - e omitidas - nos últimos anos, enquadra-se mais no sector ideológico do Bloco de Esquerda do que do PS do século XXI, sendo apoiado por todos no Partido Socialista por razões de ordem emocional - é, afinal de contas, o mais emblemático socialista nacional e padrinho do PS - e racional - Soares é conhecido como um vencedor nato, aquilo que vem mesmo a jeito aos socialistas nesta altura, e foi a única pessoa a conseguir derrotar Cavaco Silva, com as suas Presidências Abertas e o direito à indignação. Sampaio deu apenas a estocada final.

Parece-me, no entanto, que os dois não terão inflectido muito o seu rumo nos últimos vinte anos. Foi, a meu ver, a sociedade portuguesa que mudou e em especial a sua economia, no caminho de uma maior liberalização e, por conseguinte, libertação dos agentes económicos, com o surgimento de centenas de empresas privadas, com a privatização parcial ou total de grande parte das empresas públicas e a perda de poder dos sindicatos. Portugal mudou, de facto. Infelizmente, deveria ter já mudado muito mais, mas as mudanças efectuadas foram suficientes para deslocar boa parte do espectro político nacional, com excepção de alguns partidos extremistas, para uma suposta direita. Pessoalmente, acho que este foi deslocado para cima, para um patamar de menor intervencionismo do Estado. E é isso que Freitas e Soares nunca gostaram de ver acontecer, como animais políticos - de outros tempos - que são.

segunda-feira, julho 25, 2005

O Monopólio da Rede

Um estudo da Autoridade da Concorrência, divulgado hoje, indica que Portugal tem as chamadas telefónicas por rede fixa e o acesso à internet, por cobre ou cabo, mais caros da Europa. Por outro lado, tem as mais baratas chamadas por telemóvel, através de sistemas pré-pagos.

Se observarmos a fileira destes negócios, apercebemo-nos claramente de qual o elo mais fraco: a rede de distribuição. Apesar de termos concorrência ao nível dos prestadores de serviços, todos eles são obrigados a usar uma rede que foi paga por todos os cidadãos, ao longo do século XX, mas que o governo português, na tentativa desenfreada de obter receitas extraordinárias, vendeu à Portugal Telecom. Esta, que se viu "obrigada" a efectuar esta aquisição, e que continua a apresentar uma estrutura pesada e rígida, com excesso de funcionários, aproveita este fardo/privilégio para se subsidiar através dos seus concorrentes, no que à rede de cobre diz respeito e usa, a par com outros fornecedores privados, consoante a região do país, a rede de cabo em regime de monopólio.

No final, são sempre os consumidores finais, individuais e colectivos, a pagar uma elevada factura, com o seu reflexo na produtividade das empresas e, portanto, da economia.
Para eliminar esta ineficiência, é fundamental que se crie uma entidade autónoma responsável pela gestão e manutenção da rede de cobre e de cabo, à semelhança do que ocorre na electricidade e deverá ocorrer no gás a curto prazo. A sua estrutura accionista deverá ser composta por vários players do mercado, os quais apenas lhe pagarão pela utilização da mesma.

A real liberalização dos mercados do gás, electricidade, cobre, cabo e água, aliada à criação de empresas independentes gestoras das respectivas redes de transporte deverão provocar uma queda significativa no preço do produto final, com um reflexo imediato na produtividade das empresas e no poder de compra dos portugueses. Enquanto isso não suceder, não poderemos ser realmente livres.

sexta-feira, julho 22, 2005

Os subsídios indirectos são uma seca!

De acordo com o The Economist, a propósito da seca em Espanha (e Portugal...), o estado calamitoso atingido pela falta de água terá outras razões que não apenas as climatéricas:

The scarcity of water has not made it expensive, as elementary economics might suggest. Far from it: on average, water in Spain costs one-thirtieth of prices elsewhere in Europe. Spanish families devote less than 1% of their incomes to water. As the newspaper El País has suggested, “the price of water must be increased considerably. Only in this way can the waste be stopped.”

Apesar de ser um bem escasso e precioso, a inexistência de um mercado de água canalizada (aliada a questões de natureza política, que impedem os responsáveis políticos de aumentar os preços de tabela) conduz, por um lado, ao consumo desenfreado e irracional de uma commodity de primeira necessidade e, em segundo lugar, à subsidiação indirecta de sectores da economia em que a água tenha ou possa ter um papel determinante na estrutura de custos, como é o caso óbvio da agricultura, mas também do turismo, quer no preço de aluguer dos apartamentos, nos hotéis ou, de forma ainda mais evidente, nos campos de golfe, onde a água é uma peça fulcral da sua manutenção.

É, portanto, natural, que a diferença do preço do m3 de água existente entre municípios algarvios e andaluzes tenha um reflexo significativo nos preços dos produtos turísticos acima referidos. Também na agricultura tal poderá suceder, apesar de se tratar de um sector tão escandalosamente subsidiado que é impossível comparar a competitividade das ofertas.

Esta é mais uma situação em que a existência de um mercado competitivo de abastecimento de água canalizada, ao contrário de um sistema centralizador e socialista de fornecimento, traria um equilíbrio natural ao consumo de água, racionalizando o comportamento dos consumidores e deixando os casos extremos para situações extremas, com evidentes benefícios ambientais e económicos para a sociedade.

quinta-feira, julho 21, 2005

Postulado da Liberdade

Postulado

O grau de liberdade de um país é inversamente proporcional à importância dada pela opinião pública às mudanças na equipa governamental.

1º Corolário

O postulado geral pode ser aplicado sectorialmente:

"O grau de liberdade do sector cultural de um país é inversamente proporcional à importância dada pela opinião pública do sector às mudanças no Ministério da Cultura."

2º Corolário

No caso de mudanças em áreas transversais da governação, que afectem todos os sectores de actividade, como sejam os casos, concretamente, do Primeiro-Ministro e do Ministro das Finanças, o Postulado aplica-se na sua forma original:

"O grau de liberdade de um país é inversamente proporcional à importância dada pela opinião pública às mudanças no Ministério das Finanças."

terça-feira, julho 19, 2005

"O Caminho para a Servidão" ao vivo e a cores

Hugo Chavéz, depois de vários anos a minar o desenvolvimento económico do seu país e num momento em que o sector privado, que nunca foi muito robusto, está com a corda na garganta perante a constante perseguição estatal à sua actividade, vem a público anunciar o genocídio económico da Venezuela, ameaçando as empresas pouco produtivas com a nacionalização.

Não se poderia esperar, porém, outra coisa de alguém que diz abertamente que o capitalismo é o caminho para o inferno. Não aniquilar o sector privado da economia seria, no fundo, dormir com o diabo...

"The first need is to free ourselves of that worst form of contemporary obscurantism which tries to persuade us that what we have done in the recent past was all either wise or unavoidable. We shall not grow wiser before we learn that much that we have done was very foolish.", F. A. Hayek, The Road to Serfdom

segunda-feira, julho 18, 2005

Pesadelos insulares

Sonhei um destes dias que estava num comício de Hugo Chávez, em Caracas.

O populista líder, da sua tribuna, vociferava frases bacocas que sabiam a ginjas aos ouvidos dos carentes cidadãos:

"La Venezuela já está sujeita à la concorrência de países capitalistas; los europeos estan entrando por aí dentro, los americanos a entrar por aí dentro e los de Madeira a hacer concorrência a Venezuela..."

De repente, alguém do público faz um sinal e Chávez riposta:

"Me haces um sinal porquê? Estan aí unos madeirenses? Es bueno que escuchen, porque yo no los quiero aqui!".

domingo, julho 17, 2005

Ideias Livres para Portugal - nº 3

Número Verde da Saúde

Regressado de férias, trouxe comigo uma otite externa e a surdez parcial de um ouvido, fruto dos banhos de piscina e acontecimento já recorrente no meu historial de verão. Por esse facto também, na minha "posta" anterior falei-vos do que li e não do que ouvi. Hoje, último dia de férias e já de regresso à capital, não tive outro remédio que não deslocar-me a uma urgência hospitalar.

De outros anos, sabia que a urgência de Otorrinolaringologia (ORL) de Lisboa era efectuada no Hospital Egas Moniz, na Junqueira, junto ao Tejo. Pensei em telefonar mas, além de estar com a capacidade auditiva do avô Simpson, a ideia de ninguém me atender ou não me saber dar uma resposta era demasiado penosa. Atravessei assim a cidade para chegar ao Egas Moniz onde simpaticamente me informaram que, fora do período 8h-20h dos dias úteis, esta urgência se realizava no Hospital de Santa Maria, à frente do qual havia passado meia hora antes...

Desloquei-me então para Santa Maria, onde paguei a taxa moderadora de cerca de seis euroe e meio e fui triado, atendido e curado em menos de uma hora, o que nem me pareceu mau, dentro do trinómio Domingo - Urgência - Santa Maria. Há, porém, que abrir horizontes e, tal como elogio o trabalho positivo de todos aqueles que me atenderam ao longo de todo o processo - e acreditem que num hospital da dimensão de Santa Maria, que tive de atravessar a pé de uma ponta à outra, foram uns quantos... - quero também apontar duas medidas a tomar que melhorariam substancialmente o serviço prestado (e não me refiro, nesta posta, a questões de índole financeira):

- Descentralização dos Serviços de Saúde - será possível que, numa cidade de um milhão de habitantes, apenas exista uma urgência de ORL a funcionar ao domingo? Não poderia o Estado privatizar todas as unidades de saúde a seu cargo, estabelecendo acordos com os vários hospitais, à semelhança do que fazem os seguros privados de saúde?

-Criação de uma Linha Verde de Saúde - Esta devia ser uma das principais obrigações do Estado no que à Saúde diz respeito ou, melhor ainda, um projecto privado: efectuar telefonicamente a triagem do paciente e encaminhar o cidadão desde a sua casa até à unidade de saúde mais próxima, de forma a que este não tenha de se deslocar a um hospital para que daí o reencaminhem para outro.
Ao meu lado na urgência tinha uma jovem que tinha vindo do Hospital de Torres Vedras, passado pela Estefânia e finalmente chegado a Santa Maria! Ora, por ordem de preferência e a título de exemplo, esta rapariga deveria ter podido, de casa, ligar para um nº verde onde, por telefone, lhe fariam uma triagem, encaminhando-a para uma unidade de saúde em Torres Vedras, privada, que teria um acordo com o Estado. Caso tivesse mesmo de vir para Lisboa, o que é já de si um escândalo, visto não se tratar de uma situação crítica, deveria de antemão saber a que hospital se deslocar.

De salientar que as urgências de Santa Maria, pelo menos, mas calculo que tenha sido um projecto nacional, dispõem de um sistema de triagem muito objectivo e sequencial, que agrupa os pacientes por cores consoante o grau de urgência da assistência médica necessária e que encaminha os mesmos para o local da assistência, agilizando bastante os processos.

Fim de banhos

Depois de uma semana de sol e água, exemplo puro da constante insatisfação humana, acompanhado de Jorge Luis Borges, autor de interessante poesia mas de muito melhor prosa e ensaio. Dono de uma cultura excepcional, abre-nos o apetite para outras - muitas - leituras.

Li também um excelente trabalho jornalístico sobre a geo-estratégia da Ásia Central, escrito por Lutz Kleveman, que deambulou pelo triângulo Cáucaso-China-Paquistão em 2001 e 2002 em busca de explicações para o passado e pistas para o futuro: "The New Great Game - Blood and Oil in Central Asia". Imparcial, apontando o dedo a fontes externas e internas, desmascarando regimes e esclarecendo alguns posicionamentos diplomáticos, quer dos EUA e Rússia, quer dos países visitados.

Não querendo parecer o professor Marcelo, aconselho também um livro sobre investimentos em commodities, de Jim Rogers (Hot Commodities, da John Wiley & Sons) um self made man ex-corretor e multimilionário, que analisa os ciclos económicos e a sua relação com fases bullish e bearish dos mercados de acções, obrigações e commodities, demonstrando que este último aparece em contraciclo com os outros dois e em fases consideradas de recessão económica.
É precisamente a escassez de matéria-prima e o aumento da sua cotação que leva à perda de margem a jusante da fileira económica, que acaba por ser reflectida no consumidor final, provocando inflação e perda de poder de compra. O mercado acaba por reagir, investindo a montante na produção de mais matérias-primas, conduzindo a novo ciclo de crescimento da economia. Boa compra.

sexta-feira, julho 08, 2005

Sou Livre

I'm a New Yorker.

Soy Madrileño.

I'm a Londoner.

Sou Livre.

quarta-feira, julho 06, 2005

Frases Livres - 5

"Moral indignation: jealousy with a halo"

H. G. Wells (1866-1946), escritor inglês

Poucas frases como esta descrevem tão bem a história contemporânea de Portugal...
A inveja foi a pedra de toque do movimento revolucionário e o suporte moral das invasões e destruição de propriedade de 1975, como já havia sucedido na Rússia em 1917, e da criação de uma política de intolerância e humilhação da diferença que ainda hoje grassa numa parte significativa da opinião pública.

Sermos capazes de aceitar a diferença liberta-nos das nossas circunstâncias, tornando-nos livres de nós mesmos.

Prémio "A festa é na porta ao lado"

A vitória de Londres como capital organizadora dos Jogos Olímpicos de 2012, derrotando Paris na ponta final, não pode deixar de ser festejada por qualquer bom liberal.

Se os franceses têm ficado com a organização do evento, além dos Bovés que por lá pululam ainda iam arranjar maneira de se criar um Fundo Europeu só para pagar a festança.

Por outro lado, é uma pena que não tenham chegado a precisar de ir buscar uns magrebinos e senegaleses para lhes erigir mais torres de marfim...

Manifs nas Terras Altas

Será que o prémio para o melhor aluno do workshop de desobediência civil que o Bloco de Esquerda organizou na Serra da Estrela era uma viagem a Edimburgo?

domingo, julho 03, 2005

Um mundo irreal 2 - o Concurso Nacional e a Educação

Estava a sair da pastelaria, quando vi um cartaz com letras grandes onde se anunciava:

"Decorrem durante o mês de Outubro as candidaturas para as seguintes funções públicas, válidas para o ano civil de 2006:

- Cozinheiro
- Pasteleiro
- Encarregado de cafetaria
- Balconista
- Empregado de mesa

As inscrições devem ser efectuadas nas delegações regionais do Ministério da Alimentação.

Os resultados do concurso nacional serão divulgados no dia 15 de Novembro."

Aquilo despertou-me a curiosidade e voltei atrás para perguntar ao mesmo senhor com quem tinha falado momentos antes em que é que aquilo consistia.
"Então, o concurso recoloca anualmente os profissionais do sector alimentar nos diversos restaurantes e pastelarias municipais espalhados pelo país. Senão, era uma confusão!"
Portanto, pelos vistos, eles faziam com estas pessoas algo semelhante ao que nós em Portugal fazemos com os professores não-universitários. Quando lhe expliquei isso, ficou com um ar entre a surpresa e a estupefacção e perguntou:
"Mas porque é que não é cada escola a fazer a sua própria selecção? Eles devem saber melhor do que esse tal de Ministério da Educação quais as reais necessidades dos seus alunos e as especificidades da escola ou não?".
"E então porque é que vocês não fazem o mesmo com os vossos pasteleiros???", respondi, irritado por nunca ter pensado nessa hipótese.
"Mas a comida é um bem de primeira necessidade, estratégico!!! Não pode ser assim, colocado na mão de qualquer pessoa!", disse-me ele.
"E eu, pareço-lhe malnutrido ou doente? As únicas vezes que o meu Estado me alimentou foram precisamente aquelas em que pior comi - nas escolas, sendo a cantina da universidade o ex-libris da decadência, nos hospitais públicos e na tropa." Ele olhou para mim, pensativo, sem nada dizer durante alguns segundos, e de repente disse apenas "Então que ilações é que tira acerca da qualidade do vosso ensino?..."
"Mas o ensino é totalmente diferente, peço desculpa. O ensino é absolutamente imprescindível e..." - "Não mais que a comida, concerteza...", interrompeu-me ele.
"Mas a comida pode ser diferente de pessoa para pessoa, cada um escolher a sua, que todas elas têm, à sua maneira, calorias e nutrientes necessários à sua sobrevivência, mas o ensino tem de estar uniformizado para garantir que todos recebem a formação essencial!", disse-lhe eu.
"Tente pensar na educação como pensou na alimentação que eu prometo fazer o contrário", começou por dizer. "Cada um há-de poder escolher a formação que deseja e onde deseja, sendo que o somatório de isso tudo dará algo parecido com as calorias e os nutrientes de que falava na comida, ou não?"
"Então mas vocês como organizam o vosso sistema de ensino?", perguntei eu, já curioso.
"Bom, nós temos milhares e milhares de escolas espalhadas pelo país, com as organizações mais diversas. Elas próprias foram-se agrupando, criando acordos entre elas, reconhecendo-se mutuamente e aceitando alunos oriundos das mais diversas origens de conhecimento. Isso permite uma riqueza inacreditável, são raras duas pessoas que saibam exactamente o mesmo, que tenham tido precisamente a mesma formação."
"Mas as escolas são estatais, claro?"
"Claro... que não! Não há nenhuma escola estatal em Lagutrop! As escolas são empresas como qualquer outra - calculo que como os seus restaurantes, não? - há umas melhores e outras piores, umas mais caras e outras mais baratas. Por vezes, uma escola que era muito boa muda de mãos e vai piorando. Os melhores professores são altamente cobiçados e pagos a peso de ouro. Mas grosso modo, todas elas são boas e temos tido excelentes resultados ao nível do ensino. Um aluno mais introvertido tem escolas especializadas na sua educação, os mais rebeldes têm escolas onde os métodos de ensino vão ao encontro da sua energia extra, com mais actividade física, por exemplo. O meu filho, que desde pequeno sempre gostou de música, tem todo o seu ensino centrado na música, com currículos de matemática, história e português próprios para ele e para outros como ele."
Começava eu próprio a imaginar as múltiplas hipóteses, a enorme diversidade que o ensino podia incluir. Quando voltasse a Portugal, teria de contar isto a mais pessoas!

Frases Livres - 4

"When we lose the right to be different, we lose the privilege to be free."

Charles Evan Hughes (1862-1948), Governador do Estado de Nova Iorque, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça dos EUA e candidato a Presidente dos EUA em 1916.

Poder ser diferente é poder escolher o hospital em que preferimos ser tratados, a escola em que preferimos ter os nossos filhos, qual o nosso fornecedor de electricidade, gás, telefone, televisão e água. Só nesse dia seremos um pouco mais livres.

sábado, julho 02, 2005

Como salvar África?

Está a decorrer neste momento o Live 8, uma reedição do Live Aid organizado por Bob Geldof há precisamente 20 anos e que tinha como objectivo principal, e bastante nobre, combater a fome em África e especialmente na Etiópia.

Passados 20 anos e mihares de milhões de dólares colocados em África na forma, essencialmente, de alimentos e outros tipos de bens, a situação do continente é hoje, no seu todo, pior do que a inicial. O PIB per capita na Etiópia caiu de 190 para 100 dólares. A população, apesar dos relatos de malnutrição, parece ser capaz de ter uma taxa de natalidade bem superior à de mortalidade, tendo a sua população aumentado de 45 para 72 milhões (!!!) em apenas 20 anos.

Um encontro realizado em Outubro de 2004 em Londres pela Royal African Society, tocou nalgumas das razões que justificam o acima mencionado:

Land belongs to the state and it is then allocated to families; as a result 60% of the population lives on less than 1 hectare of land (starvation plots) and do not have enough land for even minimum food production. The Government is saying that if peasants were able to own land they would sell up and go to cities and there is a general consensus that a population still on the land is an easier population to control. Buerk did speak of some progress made, through certificates of ownership for example, but that there was no possibility of outright ownership, a trend that is discouraging urbanisation. This is a concern because 7 out of 8 people are subsistence farmers; it is very difficult for them to improve their situation when there is a limited urban population to sell your surplus produce to. He also mentioned the lack of an effective system to move food from food surplus areas to deficit areas, or for storing food from good year to bad year. Population pressures are increasing and the government is creating a difficult environment resistant to foreign investment.

Muitos dos países africanos subsarianos, com fluxos regulares de ajuda vinda da Europa e EUA, têm hoje políticas sociais definidas com base nestes apoios. Os seus orçamentos contam já com estas ajudas como um dado adquirido, diminuindo o seu esforço e eternizando o problema. Por mais calculista que possa parecer, a minimização do sofrimento destas populações funciona como barreira ao combate às reais causas do seu subdesenvolvimento. Não creio, portanto, que estejamos a caminhar no bom sentido com este tipo de iniciativas, que exigem o perdão da dívida do G8 aos países de terceiro mundo. Seria, de facto, muito mais interessante ver a comunidade ocidental criticar a falta de direitos de cidadania nesses países, a inexistência de uma economia de mercado que permita corrigir as assimetrias regionais que fazem com que haja abundância e fome em distâncias inferiores a 100 km, que coloque nas mãos das pessoas a escolha do seu destino e não na de políticos centralizadores e totalitários, fruto da revolução marxista fomentada por Moscovo e que varreu África nas décadas de 60, 70 e 80, deixando atrás de si um rasto de destruição social e económica. E não será fechando os olhos ao passado que ajudaremos a corrigir os erros cometidos por esses países. Estaremos, isso sim, a subsidiar a miséria existente e a hipotecar a vida das novas gerações.

A este propósito, recomendo também a leitura de um excelente artigo publicado no New York Times ("Celebrities' Embrace of Africa Has Critics").