Ideias Livres

terça-feira, janeiro 22, 2008

O mito cubano e a ignorância do esoterismo gauche

Quatro médicos cubanos, "cooperantes" em Timor-Leste, vieram a público denunciar o que muitos tentam permanentemente ocultar e denegrir como propaganda imperialista, enquanto entoam loas ao espírito do Homem Novo que, de borla e em nome da solidariedade entre os povos, espalha a sua bondade pelos mais necessitados - porque eles, cubanos, de nada precisam desde que tenham o alimento espiritual dado pelo comunismo, a Nova Religião.

Em primeiro lugar, o seu trabalho benemérito ocorre por razões puramente capitalistas, pois recebem como cooperantes 10 vezes mais do que o salário de um médico em Cuba (25 dólares por mês...).

Em segundo lugar, mesmo que por algum motivo não o desejem, são forçados a aceitar ser voluntários (algo recorrente no socialismo), sob risco de nunca terem qualquer oportunidade de evolução na carreira. Sim, surpresa total (!...), a ascensão profissional, como em qualquer outro regime socialista, tem uma forte componente política envolvida. Nada que alguém com um mínimo de conhecimento da nossa história contemporânea não tenha ainda percebido.

Por último, os países de destino (a acontecer em Timor é perfeitamente natural que seja prática comum do PC cubano onde quer que estejam cooperantes) vendem-se a troco de umas borlas, permitindo que o seu estado de direito seja atropelado em nome das boas relações com Cuba. É assim como fechar a Segunda Circular para deixar passar Putin ou permitir que Khadafi arme a tenda em plena linha do Estoril e que os seus gorilas imponham um regime especial à sua volta.

O mundo está hoje, em boa medida, dominado por dirigentes cuja adolescência foi inspirada em gente pouco respeitável maquilhada com uma cartilha de ajuda ao próximo com semelhanças ao cristianismo primitivo mas com práticas da Inquisição. Em nome de ideais presos no seu bolbo raquidiano, prestam vassalagem a qualquer idiota que transpire uma gota de anti-capitalismo, enquanto se aproveitam do seu novo poder para cometer os maiores disparates económicos. São mais ou menos como o personagem de Tom Hanks no Big. Podiam receber o Pai Natal nas suas residências oficiais mas optaram por Fidel Castro ou Hugo Chávez. Para nosso mal mas, acima de tudo, para mal daqueles que continuam a ver os seus direitos rasgados em nome de uma mentira.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Uma quota tão estúpida como outra qualquer...

Na The Economist desta semana é possível ler um artigo relativo à percentagem de mulheres vs homens nas prisões britânicas, a qual tem vindo a aumentar (para valores de perto de 5%), e descrevendo um conjunto de problemas sociais relacionados com este facto. Há mesmo quem proponha que se legisle no sentido de não permitir que se encarcere uma mãe com filhos menores excepto em crimes de sangue...

Ora eu sugeriria precisamente o contrário. Parece-me fundamental que, em nome de uma igualdade que se quer aprofundar, a sociedade deveria procurar criar mecanismos que a promovesse. Que o privilégio de ter cama, comida e roupa lavada de borla seja um quase exclusivo dos homens, depois de milhares de anos de opressão sobre as mulheres, é apenas mais uma prova do retrocesso social em que vivemos. Apenas catalisando a igualdade conseguiremos aproximar homens e mulheres num parâmetro social tão importante como este. Proponho por isso que se crie uma quota para mulheres no nosso sistema prisional, que poderá começar por 1/3 do total. Visto que há muito menos mulheres interessadas em cometer crimes, a solução deverá passar por prender as mulheres, companheiras ou namoradas de homens condenados. Assim como assim, ninguém me convence que elas não tinham conhecimento de tudo e se não cometeram materialmente o crime, foi por pressão da sociedade machista e reaccionária em que vivemos.

É uma ideia estúpida? É verdade, mas é tão estúpida como outra quota qualquer.

sábado, janeiro 12, 2008

Há estudos e estudos

Algumas pessoas da área de influência socialista estão incomodadas e preocupadas com os interesses económicos de alguns financiadores do estudo que a CIP realizou sobre a localização preferencial do futuro aeroporto do Vale do Tejo (de Lisboa é o da Portela...).
Assisti ontem maravilhado à argumentação de Henrique Neto, empresário industrial com interesses na zona da Marinha Grande, e de António Galambas, deputado socialista.

Que se tenham gasto milhões de euros durante anos em estudos sobre a Ota, com dinheiros públicos, sem nunca se ter procurado, de forma integrada, a localização ideal, isso não parece que os preocupe.

Que a localização Ota beneficiaria uma série de outros interesses económicos privados, que sempre manobraram nos bastidores usando para esse efeito recursos públicos, também não parece que seja a sua preocupação.

O que choca estes senhores é que algumas pessoas e empresas suportem o custo de um estudo comparativo, depois de todos os outros estudos públicos efectuados relativos à Ota já terem sido pagos com o seu contributo fiscal, estudo esse que os nossos políticos não se lembraram de realizar e que serviu para que esses mesmos políticos pusessem em causa todos os outros estudos previamente realizados e alterassem a localização do futuro aeroporto.

A mim, o que me choca é a promiscuidade permanente e encapotada entre interesses privados e o erário público, que conduz a enormes prejuízos para a maioria das pessoas, beneficiando uma pequena elite próxima do poder. Que essa elite também se encontra ou encontrará na solução Alcochete, não tenho dúvidas. Nem ela teria sido equacionada se assim não fosse. Que se critique o governo por andar a escolher o lobby que, neste caso, dá mais jeito ter consigo, acho muito bem e o deputado António Galambas poderá fazê-lo em qualquer reunião inerna do seu partido. Mas que se critique privados por realizarem um estudo privado, é que não se pode admitir.