Ideias Livres

sexta-feira, maio 29, 2009

Humor cubano

Há tempos comprei o livro "Foice e Martelo", editado pela Guerra e Paz e que visa contar a história do comunismo em anedotas reais contadas pela população de países comunistas ao longo do século XX. O comunismo presta-se, de facto, pela sua incapacidade em compreender o Homem e o seu modo de ser, a piadas de grande qualidade, nomeadamente no campo do absurdo.

Eis quando hoje, enquanto lia o resumo dos principais acontecimentos semanais na newsletter do The Economist, me deparo com mais uma pérola de humor comunista, neste caso de origem cubana:

"Cuba’s government said it would announce an austerity programme to cope with the effects of the global economic downturn and cut energy use to avert electricity blackouts this summer."

Ficamos portanto a saber que se acabaram os tempos de vacas gordas em Cuba e que nesta ilha das Caraíbas se acaba com os blackouts com... blackouts.

segunda-feira, maio 25, 2009

Pessimismo(s)

José Sócrates, em permanente campanha eleitoral - desta vez nem se pode dizer que só o faz porque se aproximam eleições, visto que para este governo a propaganda é uma prática diária e central da sua praxis política - disse nunca ter visto um pessimista criar emprego.

Compreendo que o primeiro-ministro não é uma pessoa com grande bagagem de gestão e tem uma certa dificuldade em compreender alguns dos conceitos básicos de microeconomia, mas dizer um sound byte destes é ter uma visão absolutamente maniqueísta e redutora da sociedade.

Poderíamos começar por discutir a definição de pessimista. Eu posso, por exemplo, estar optimista face à crise o que é equivalente a estar pessimista face à retoma. O mal dos outros pode ser o meu bem, não significando isso que eu tenha alguma responsabilidade na sua origem. Em situação extrema podemos pensar no negócio das funerárias, que vive do pior de todos os males, a morte. Será o empreendedor-cangalheiro um optimista, socraticamente falando? E o Cobrador de Fraque?

É do conhecimento geral a existência de vários sectores de actividade tipicamente favorecidos por períodos recessivos. As vendas de baton, que costumam aumentar em tempos de crise, são o indicador mais conhecido mas podemos imaginar muitos outros. São muitas as marcas e negócios que surgiram do desejo do mercado de gastar menos em determinados bens. O IKEA ou a Decathlon são exemplos perfeitos deste conceito.

Claro que estes investimentos, para serem bem sucedidos, requerem uma análise racional e fria dos mercados em que estão, pois é o dinheiro dos seus investidores que está em jogo. Pelo contrário, Sócrates e boa parte dos políticos não tem pudor em nos atirar para projectos sem viabilidade, nunca respondendo pelo custo social dos seus devaneios e manias. Por esse motivo, só tem havido uma direcção para a dívida pública na generalidade dos países, cuja dimensão só não leva (por enquanto) à falência técnica desses Estados à nossa custa, pela capacidade coerciva dos Estados em obter receitas adicionais sempre que necessário.

Em suma, é um disparate económico dizer que o pessimismo não cria emprego, mas espero que o nosso pessimismo lhe tire o emprego a ele.

domingo, maio 17, 2009

Feira do Livro

Consegui passar segunda-feira, ao fim do dia, pela Feira do Livro de Lisboa, depois de alterarem a hora de encerramento dos dias de semana para as 21.30 (que continuou a ser demasiado cedo para qualquer pessoa que saia do escritório por volta das 19-19.30 mas, aparentemente o mercado-alvo da feira são estudantes, reformados e desempregados...).

Mesmo assim, não me foi possível ver mais do que pouco mais de metade de uma das alas e ainda não eram 21.30 já muitos stands estavam a fechar - incluindo a Biblioteca Municipal - impedindo-me de saber o que pretensamente tinham para apresentar e, quem sabe, vender. O culto do "frete" está definitivamente instalado na nossa sociedade. Somos uma burocracia ao melhor estilo prussiano, em que o serviço ao cliente é visto por muitos como uma subserviência inaceitável. A excepção a esta regra é, sem dúvida, a Leya, que conseguiu criar um espaço muito interessante e profissional sem impedir a estrutura tradicional dos restantes feirantes. Está uma vez mais provado que os velhos do Restelo que quase impediram a realização da Feira em 2008 estavam obviamente errados.

Quanto a compras, fica a lista pessoal:

- 3 livros infantis-para-adultos, fabulosos, da Planeta Tangerina, uma pequena editora com um projecto muito interessante (um para o pai-eu, outro para a mãe e o terceiro para o filho, que o perceberá melhor daqui a uns anos). Os livros apesar de, a meu ver, caros, estão muito giros. Parabéns.

- Atlas de Historia de España, de Fernando García de Cortázar, historiador jesuíta e vencedor do Premio Nacional de Historia de España de 2008, no quiosque do El Corte Inglés. Já há 2 anos tinha comprado na Irlanda o Atlas of Irish History e o ano passado, em Inglaterra, a Encyclopedia of British History, tendo gostado da forma simples e muito gráfica como a história das ilhas britânicas tinha sido contada. Este tem o valor acrescentado de contar também um pouco da nossa história e vale a pena.

- 4 livros Leya, aproveitando a promoção pague 3 e leve 4 potenciada pelas sinergias do grupo:
"As velas ardem até ao fim" de Sándor Marai (Dom Quixote), "O terceiro Irmão" de Nick McDonell (Teorema), "Experiência" de Martin Amis (também Teorema) e "A Origem das Crises Financeiras", de George Cooper (Lua de Papel). A propósito deste último livro, leiam esta crónica de George Cooper no The Huffington Post que funciona como prólogo do livro. De salientar ainda que este livro foi publicado em Abril de 2008, antes ainda do crash económico a que assistimos do Verão para cá. Depois de lido, tenciono falar sobre ele um pouco aqui.

- "Black Mass" de John Gray: o primeiro contacto que tive com John Gray foi através da edição portuguesa de "Al Qaeda e o significado de ser moderno", da Relógio de Água, em 2004. Um bom livro, mas muito focalizado no confronto Ocidente vs outras culturas, tendo por pano de fundo o 11 de Setembro. Olhando agora para trás e conhecendo outras obras de Gray, encaixa na sua perspectiva do mundo. Na altura não me levou tão longe.
O ano passado comprei "Straw Dogs" não ligando o autor a "Al Qaeda...". Uma obra dura, violenta mesmo em alguns momentos, mas para mim muito marcante. Um murro no estômago.
"Black Mass" vem continuar o tema em que Gray tem evoluído nos últimos anos, criticando veementemente os movimentos milenaristas ou seja, todas as correntes de pensamento que têm por base a ideia de um fim último óptimo para a Humanidade para o qual tendemos e o qual acaba por justificar todos os meios para o alcançar, incluindo neste grupo o positivismo, os movimentos totalitários do século XX bem como o movimento neo-con americano que conduziu à guerra do Iraque. Gray é, sem dúvida, um dos pensadores vivos mais interessantes.

Saí já com alguma coisa na bagagem. Como não consegui voltar à Feira até hoje, para o ano há mais.