Ideias Livres

segunda-feira, maio 25, 2009

Pessimismo(s)

José Sócrates, em permanente campanha eleitoral - desta vez nem se pode dizer que só o faz porque se aproximam eleições, visto que para este governo a propaganda é uma prática diária e central da sua praxis política - disse nunca ter visto um pessimista criar emprego.

Compreendo que o primeiro-ministro não é uma pessoa com grande bagagem de gestão e tem uma certa dificuldade em compreender alguns dos conceitos básicos de microeconomia, mas dizer um sound byte destes é ter uma visão absolutamente maniqueísta e redutora da sociedade.

Poderíamos começar por discutir a definição de pessimista. Eu posso, por exemplo, estar optimista face à crise o que é equivalente a estar pessimista face à retoma. O mal dos outros pode ser o meu bem, não significando isso que eu tenha alguma responsabilidade na sua origem. Em situação extrema podemos pensar no negócio das funerárias, que vive do pior de todos os males, a morte. Será o empreendedor-cangalheiro um optimista, socraticamente falando? E o Cobrador de Fraque?

É do conhecimento geral a existência de vários sectores de actividade tipicamente favorecidos por períodos recessivos. As vendas de baton, que costumam aumentar em tempos de crise, são o indicador mais conhecido mas podemos imaginar muitos outros. São muitas as marcas e negócios que surgiram do desejo do mercado de gastar menos em determinados bens. O IKEA ou a Decathlon são exemplos perfeitos deste conceito.

Claro que estes investimentos, para serem bem sucedidos, requerem uma análise racional e fria dos mercados em que estão, pois é o dinheiro dos seus investidores que está em jogo. Pelo contrário, Sócrates e boa parte dos políticos não tem pudor em nos atirar para projectos sem viabilidade, nunca respondendo pelo custo social dos seus devaneios e manias. Por esse motivo, só tem havido uma direcção para a dívida pública na generalidade dos países, cuja dimensão só não leva (por enquanto) à falência técnica desses Estados à nossa custa, pela capacidade coerciva dos Estados em obter receitas adicionais sempre que necessário.

Em suma, é um disparate económico dizer que o pessimismo não cria emprego, mas espero que o nosso pessimismo lhe tire o emprego a ele.