Dois pesos, duas medidas?
Indirectamente - via comentário no Insurgente - acabei por focar um tema que me tem interessado bastante nos últimos tempos, até por ter feito uma pós-graduação em Controlo de Gestão e Performance, onde a questão da correcta alocação de incentivos está sempre presente.
Um dos grandes argumentos usados por muitos contra o sistema de remuneração variável das empresas prende-se com o aparente imediatismo destes face a decisões que podem demorar anos a ter efeitos, positivos ou negativos.
Ora, há aqui duas questões muito importantes:
1. Imaginem que a AIG até tem um sistema de remuneração que se baseia nos resultados acumulados dos últimos 10 anos. Seria um sistema mais sustentável e justificável do que um que apenas reflecte resultados do último exercício. No entanto, esse sistema pode originar chorudos bónus em ano de grandes perdas. Em que ficamos?
2. Imaginem agora que alguém se lembra que os políticos, que tanto têm criticado os gestores por não sentirem na pele o impacto dos seus actos de gestão, são os primeiros a tomar decisões - como estes bailouts, a suportar durante décadas - cujas consequências nunca sofrerão na pele. Vivem do imediatismo do voto popular e não das reais consequências dos seus actos. Em que ficamos?
Um dos grandes argumentos usados por muitos contra o sistema de remuneração variável das empresas prende-se com o aparente imediatismo destes face a decisões que podem demorar anos a ter efeitos, positivos ou negativos.
Ora, há aqui duas questões muito importantes:
1. Imaginem que a AIG até tem um sistema de remuneração que se baseia nos resultados acumulados dos últimos 10 anos. Seria um sistema mais sustentável e justificável do que um que apenas reflecte resultados do último exercício. No entanto, esse sistema pode originar chorudos bónus em ano de grandes perdas. Em que ficamos?
2. Imaginem agora que alguém se lembra que os políticos, que tanto têm criticado os gestores por não sentirem na pele o impacto dos seus actos de gestão, são os primeiros a tomar decisões - como estes bailouts, a suportar durante décadas - cujas consequências nunca sofrerão na pele. Vivem do imediatismo do voto popular e não das reais consequências dos seus actos. Em que ficamos?
2 Comments:
O problema da AIG, como saberá, passa muito pelo risco bancário que a sua falência acarreta: ninguém sabe a extensão de bancos seguros por Credit Default Swaps da companhia. Porque quando os instrumentos derivados surgiram em massa, Greenspan achou melhor não regular. De onde se criou um consenso em prol de regulação como arma para restaurar confiança aos mercados. Os hedge funds como sabe estão na mira. E os CDS.
O problema dos incentivos é neste momento político. Os sucessivos bailouts assentam no medo desses CDS, e o público não sabendo disso pergunta-se porque há-de um gestor de um empresa que já recebeu centenas milhões de dólares ter bónus.
O que coloca a questão relevante, a meu ver, noutro nível: que regulação será necessária? Segundo compreendo do seu site é um liberal, e acredito (desculpe se erro) que se oponha a mais regulação. Mas então deixava um desafio: em http://tinyurl.com/dfq6nj analiso a entrevista de um dos maiores promotores do liberalismo ao WSJ. E acho que ele acaba por admitir que esta crise os ultrapassa. Se tiver interesse, eu gostava de ter a sua opinião.
Cumps,
CS
By CS, at 2:57 da manhã
«No entanto, esse sistema pode originar chorudos bónus em ano de grandes perdas.»
Esse não seria o caso de uma AIG ou de uma empresa falida. Uma empresa que vai à falência é vendida às peças e as receitas revertem a favor dos credores ficando o resto para os accionistas. Duvido que, numa situação destas os accionistas acordassem em distribuir a parte que lhes toca pelos antigos gestores da empresa falida.
O facto novo aqui é que o estado americano evitou a falência. Logo, o estado americano tem o direito de impôr as políticas de remuneração que bem entenda. E acho bem porque senão o incentivo seria, e acho que é um pouco o que estava a acontecer, de todas as empresas, por via dos seus gestores, quererem ser salvas pelo dinheiro dos contribuintes.
«Os sucessivos bailouts assentam no medo desses CDS»
Caro Carlos Santos, há quem seja da opinião que deixar falir quem tem de falir é a melhor opção (embora a mais dolorosa) e que há muita empresa financeira saudável que resistiria e compraria de bom grado os activos saudáveis dessas empresas. Convém não esquecer que o poder político tem no medo colectivo (justificado ou não) uma poderosa arma para ganhar poder. Portanto não têm incentivo a dissipar esse medo e dar um voto de confiança aos mercados.
By NC, at 9:14 da manhã
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