Ideias Livres

terça-feira, junho 16, 2009

De que lado estão vocês?

No Irão, depois de um acto eleitoral com elevada participação e cujos sinais visíveis pareciam indiciar, se não uma vitória de Mousavi, o candidato mais liberal, pelo menos uma disputa renhida pela Presidência, as autoridades deram Ahmadinejad como vencedor com cerca de 2/3 dos votos. A oposição, revoltada, reclama a existência de uma chapelada. É de facto uma pena para o mundo que não tenham sido permitidos observadores internacionais neste acto eleitoral. Impediu-nos de ter uma visão imparcial do processo e deixou-nos a todos com dúvidas legítimas quanto à honestidade do resultado apresentado.

Pessoalmente, teria todo o gosto em ver o Irão, nação milenar, transformado numa sociedade aberta e livre, com menor força dos ayatollahs e sei que as manifestações que têm ocorrido são a prova da vitalidade da sociedade civil em Teerão. No entanto, isso não significa forçosamente que tenha existido alguma fraude e creio que a história do Irão está a ser escrita a cada hora que passa.

Aproveito no entanto estes factos para chamar a atenção para esta notícia do Libertad Digital, em que se descrevem ligações perigosas entre a Bolívia, a Venezuela e o Irão, que envolvem potencial tráfico de urânio. Se nos lembrarmos que o principal amigo de Ahmadinejad a nível internacional é Hugo Chávez, o extravagante e populista líder socialista da Venezuela, que tem conseguido aos poucos transformar a Venezuela numa autocracia - enquanto muitos líderes internacionais fecham os olhos, à custa de petróleo e, nalguns casos, de uns milhares de computadores infantis - seria importante perceber o que tem a comunidade internacional a dizer de tudo isto e, já agora, o BE e o PCP, que de forma mais ou menos velada têm defendido o Papagaio de Caracas. Porque a ambiguidade e a hipocrisia costumam ser práticas de partidos do poder, habituados à realpolitik, e não de partidos tão cheios de verdades supremas...

segunda-feira, junho 08, 2009

Pensamento politicamente incorrecto do dia

A propósito da pseudo-escândalo que a esquerda quis criar em torno da candidata do partido de Berlusconi ao PE, coloco a seguinte questão para discussão sem falsos moralismos:

À data da sua eleição, o que tinham feito a mais (e não a menos) Ana Drago, Joana Amaral Dias ou Marisa Matias do que Barbara Matera? Ser de esquerda?

Balanço eleitoral

Pela primeira vez, aos 33 anos, votei no CDS (ainda demorei um pouco a encontrá-lo, mas lá estava, na forma de Partido Popular).

Fi-lo depois de pensar devidamente no assunto (e de ver os péssimos cartazes de promoção da subsidiodependência por parte do PSD). Além disso, julgo que Nuno Melo fez uma excelente campanha - e terminou com um discurso de grande classe, mencionando todo o staff que o apoiou, algo que não me lembro de alguma vez ter visto na política.

Analisando os resultados, apraz-me dizer o seguinte:

1. O PS levou uma enorme e merecida rabecada. Perdeu votos para o PSD, para o BE e para a abstenção. Vital Moreira foi um péssimo candidato, até no discurso final, sempre pouco à vontade, sem pitada do animal político que em tempos parecia ter sido. Neste momento começa a ser duvidoso se Sócrates, com todos os escândalos e arrogância, vale mais ou menos do que o voto ideológico no PS.

2. O PSD venceu, conseguindo cativar eleitorado descontente com o PS, ao centro. À direita, fugiram para o PP, que conseguiu com isso um excelente resultado dadas as expectativas. Rangel foi um candidato persistente e simpático que conseguiu, com um sorriso na cara, aguentar a provocação de Passos Coelho em Vila Real. Esteve pior no discurso de ontem, dando demasiado peso a uma minudência protocolar ao criticar o facto de não ter sido pessoalmente cumprimentado por Vital Moreira. Por contraste, Manuela Ferreira Leite terá feito um dos seus melhores discursos. Tranquila, ponderada, afável e virtuosa. Imensa classe, coisa que vai faltando na nossa sociedade, muito por culpa dos exemplos políticos.

3. O BE foi fortemente reforçado com eleitorado descontente do PS, que regressará à origem perante a ameaça laranja caso os bloquistas não consigam transmitir uma mensagem de confiança e menor extremismo (e não têm muito tempo).

4. A CDU tem o seu eleitorado próprio, subindo e descendo percentualmente na função inversa da taxa de abstenção. Poderá ter recebido algum eleitorado socialista old school, descontente com Sócrates.

5. O PP teve um resultado bastante bom, dadas as expectativas criadas por meses de sondagens perniciosas. Há que rever a metodologia das mesmas para conseguir reflectir a realidade sociopolítica do país e isso não está a ser conseguido. Tem no entanto uma enorme ameaça para as legislativas, o voto útil. Perante a possibilidade do PSD derrotar o PS muitos votantes de direita estarão tentados a votar laranja. Sabendo-se da difícil convivência Ferreira Leite/Portas, será difícil a este apelar ao voto no PP como voto de estabilidade.

6. A enorme abstenção é, na sua maioria, constituída por um votante pouco interessado/desiludido com a política, devendo ter em si muito eleitorado que votou PS em 2005. Penso que, tirando alguma flutuação para voto útil à esquerda (BE->PS) e, principalmente, à direita (PP->PSD) será da decisão destas pessoas que dependerá o futuro político nacional.

7. A nível europeu, a grande vitória do PPE, a derrota da esquerda moderada e a subida dos eurocépticos são fortes sinais dos europeus para as suas elites políticas. No fundo, como em Portugal, temos um conjunto da população que acredita que o Estado lhes pode dar tudo e não aceita qualquer cedência, radicalizando o seu voto em resposta à ameaça da perda de "direitos instituídos" ao aperceber-se que a esquerda no poder os "traiu". Outro conjunto - maioritário - que acredita na economia de mercado, apesar de tudo o que sucedeu no último ano. E um terceiro, que pode até ser constituído por elementos de ambos os grupos mas por razões inversas, que está farto do permanente centralismo por considerar (correctamente) que tem perdido poder de decisão sobre a sua vida.