Ideias Livres

segunda-feira, junho 08, 2009

Balanço eleitoral

Pela primeira vez, aos 33 anos, votei no CDS (ainda demorei um pouco a encontrá-lo, mas lá estava, na forma de Partido Popular).

Fi-lo depois de pensar devidamente no assunto (e de ver os péssimos cartazes de promoção da subsidiodependência por parte do PSD). Além disso, julgo que Nuno Melo fez uma excelente campanha - e terminou com um discurso de grande classe, mencionando todo o staff que o apoiou, algo que não me lembro de alguma vez ter visto na política.

Analisando os resultados, apraz-me dizer o seguinte:

1. O PS levou uma enorme e merecida rabecada. Perdeu votos para o PSD, para o BE e para a abstenção. Vital Moreira foi um péssimo candidato, até no discurso final, sempre pouco à vontade, sem pitada do animal político que em tempos parecia ter sido. Neste momento começa a ser duvidoso se Sócrates, com todos os escândalos e arrogância, vale mais ou menos do que o voto ideológico no PS.

2. O PSD venceu, conseguindo cativar eleitorado descontente com o PS, ao centro. À direita, fugiram para o PP, que conseguiu com isso um excelente resultado dadas as expectativas. Rangel foi um candidato persistente e simpático que conseguiu, com um sorriso na cara, aguentar a provocação de Passos Coelho em Vila Real. Esteve pior no discurso de ontem, dando demasiado peso a uma minudência protocolar ao criticar o facto de não ter sido pessoalmente cumprimentado por Vital Moreira. Por contraste, Manuela Ferreira Leite terá feito um dos seus melhores discursos. Tranquila, ponderada, afável e virtuosa. Imensa classe, coisa que vai faltando na nossa sociedade, muito por culpa dos exemplos políticos.

3. O BE foi fortemente reforçado com eleitorado descontente do PS, que regressará à origem perante a ameaça laranja caso os bloquistas não consigam transmitir uma mensagem de confiança e menor extremismo (e não têm muito tempo).

4. A CDU tem o seu eleitorado próprio, subindo e descendo percentualmente na função inversa da taxa de abstenção. Poderá ter recebido algum eleitorado socialista old school, descontente com Sócrates.

5. O PP teve um resultado bastante bom, dadas as expectativas criadas por meses de sondagens perniciosas. Há que rever a metodologia das mesmas para conseguir reflectir a realidade sociopolítica do país e isso não está a ser conseguido. Tem no entanto uma enorme ameaça para as legislativas, o voto útil. Perante a possibilidade do PSD derrotar o PS muitos votantes de direita estarão tentados a votar laranja. Sabendo-se da difícil convivência Ferreira Leite/Portas, será difícil a este apelar ao voto no PP como voto de estabilidade.

6. A enorme abstenção é, na sua maioria, constituída por um votante pouco interessado/desiludido com a política, devendo ter em si muito eleitorado que votou PS em 2005. Penso que, tirando alguma flutuação para voto útil à esquerda (BE->PS) e, principalmente, à direita (PP->PSD) será da decisão destas pessoas que dependerá o futuro político nacional.

7. A nível europeu, a grande vitória do PPE, a derrota da esquerda moderada e a subida dos eurocépticos são fortes sinais dos europeus para as suas elites políticas. No fundo, como em Portugal, temos um conjunto da população que acredita que o Estado lhes pode dar tudo e não aceita qualquer cedência, radicalizando o seu voto em resposta à ameaça da perda de "direitos instituídos" ao aperceber-se que a esquerda no poder os "traiu". Outro conjunto - maioritário - que acredita na economia de mercado, apesar de tudo o que sucedeu no último ano. E um terceiro, que pode até ser constituído por elementos de ambos os grupos mas por razões inversas, que está farto do permanente centralismo por considerar (correctamente) que tem perdido poder de decisão sobre a sua vida.

2 Comments:

  • Bem analisado.
    Quem "safou" o CDS foi o Nuno Melo, o candidato com mais nível de todos os grandes que se apresentaram. É pena o CDS estar longe de ser um partido de cariz liberal...

    Estou francamente preocupado com a ascensão da extrema-esquerda, principalmente o Bloco. O discurso moralista, mais que o socialista, tem-lhes rendido popularidade. Não estou seguro que grande parte da malta que vota neles se aperceba dos perigos do seu radicalismo.

    By Blogger NC, at 11:33 da manhã  

  • Caro Diogo.

    Apreciei muito a sua análise.

    Revelou isenção e limitou-se aos factos (o que não se vê em muita Blogosfera, em que se tende a analisar os factos pelo prisma mais favorável às respectivas preferências partidárias).

    Aproveito e felicito-o também pelo blog: muito bem conseguido!

    Cps,
    Manuel LRB

    By Anonymous Anónimo, at 3:25 da tarde  

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