O Grande Desafio
Acabei de ler um livro, editado recentemente pela Bizâncio, intitulado "O Fim do Petróleo". Quando o vi nos escaparates, com a sua capa amarela forte, julguei tratar-se da tradução para português de The End of Oil, de Paul Roberts. Não é muito diferente, porém o seu título original é The Long Emergency, foi escrito por James Howard Kunstler e é bastante mais pessimista.
Enquanto Paul Roberts se limita a fazer uma análise de médio prazo avançando com alguns cenários possíveis para mantermos a civilização ocidental a andar para a frente, Kunstler explora as repercussões sociais do fim dos combustíveis fósseis, em todo o mundo e em especial nos EUA.
Kunstler havia escrito, antes deste livro, duas obras sobre os subúrbios americanos, pelos quais ele destila um ódio notório. O autor pertence àquele leque de pessoas fortemente conservadoras no sentido em que consideram que o homem deve minimizar ao máximo o seu impacto na Terra. E o American Way of Life do século XX é a antítese de tudo isso. Devemos porém saber separar o trigo do joio e analisar a informação que o autor nos apresenta. Para mim, que trabalho na área energética, muitos dos termos e conceitos são-me perfeitamente familiares e a análise de Kunstler nunca me soou a inverosímil - não sendo, no entanto, neste aspecto, muito distinta da de Paul Roberts.
O lado mais interessante da obra, porém, não é tanto a análise técnica das potencialidades das várias alternativas aos combustíveis fósseis mas a visão macroeconómica da questão energética para a Humanidade. Nesta medida, Kunstler recorda que o Homem, desde que descobriu o potencial dos combustíveis fósseis, tem vindo a utilizá-los a seu bel-prazer, de borla - face à Terra - num perigoso desequilíbrio do balanço energético da espécie. No fundo, o que Kunstler quer dizer é que queimar carvão e petróleo é como privatizar empresas públicas para pagar o défice. Resolve no momento, mas apenas adia o problema. Só o equilíbrio entre despesas e receitas é sustentável. Ora, para o Homem (e qualquer outra espécie) a única receita sustentável é dada pelas energias renováveis, em especial a solar, a eólica e a hídrica, até agora. Apenas aquilo que a Terra e o Sol nos dão de forma permanente nos permitirá atingir um equilíbrio energético a longo prazo, após a depleção dos combustíveis fósseis, incluindo o urânio. Este é infelizmente muito inferior às necessidades actuais da Humanidade. Assim, segundo Kunstler, o Homem terá de rever de forma drástica o seu modo de vida - em especial os americanos e os seus subúrbios de quilómetros e quilómetros quadrados - regressando inevitavelmente à comunidade local.
Não concordo com Kunstler em muita coisa, em especial na forma como retrata a economia capitalista e, a seu ver, a sua consequência última, a globalização. Para ele, toda ela foi fruto dos combustíveis fósseis, uma espécie de bizarria em vias de extinção. Kunstler não compreende que a globalização não teria de ser obrigatoriamente capitalista, isto é, ela é ideologicamente neutra, como aliás se viu durante a vida do bloco comunista. Vive dos baixos custos de transporte, físicos e digitais. É tecnocrática. A ausência de petróleo aumentará os custos de transporte, esmagando a globalização. Mas o capitalismo é muito mais do que isso. É a forma de optimizar as trocas comerciais, sejam elas locais ou globais. A sua eficiência será posta em causa pela diminuição da concorrência, esmagada pelas distâncias, mas a sua razão de ser continuará. Porém, sou levado a acreditar que teremos de facto de mudar de vida, desperdiçando menos, adaptando-nos a uma nova realidade, dura e fria, à medida que os preços do petróleo e outras commodities finitas forem subindo. Sem petróleo e com seis biliões de habitantes, a Humanidade passará por um dos seus momentos mais difíceis, pior mesmo que o da desagregação do Império Romano. Mas temos de aprender a ver as ameaças como desafios e a acreditar na espécie humana.
Enquanto Paul Roberts se limita a fazer uma análise de médio prazo avançando com alguns cenários possíveis para mantermos a civilização ocidental a andar para a frente, Kunstler explora as repercussões sociais do fim dos combustíveis fósseis, em todo o mundo e em especial nos EUA.
Kunstler havia escrito, antes deste livro, duas obras sobre os subúrbios americanos, pelos quais ele destila um ódio notório. O autor pertence àquele leque de pessoas fortemente conservadoras no sentido em que consideram que o homem deve minimizar ao máximo o seu impacto na Terra. E o American Way of Life do século XX é a antítese de tudo isso. Devemos porém saber separar o trigo do joio e analisar a informação que o autor nos apresenta. Para mim, que trabalho na área energética, muitos dos termos e conceitos são-me perfeitamente familiares e a análise de Kunstler nunca me soou a inverosímil - não sendo, no entanto, neste aspecto, muito distinta da de Paul Roberts.
O lado mais interessante da obra, porém, não é tanto a análise técnica das potencialidades das várias alternativas aos combustíveis fósseis mas a visão macroeconómica da questão energética para a Humanidade. Nesta medida, Kunstler recorda que o Homem, desde que descobriu o potencial dos combustíveis fósseis, tem vindo a utilizá-los a seu bel-prazer, de borla - face à Terra - num perigoso desequilíbrio do balanço energético da espécie. No fundo, o que Kunstler quer dizer é que queimar carvão e petróleo é como privatizar empresas públicas para pagar o défice. Resolve no momento, mas apenas adia o problema. Só o equilíbrio entre despesas e receitas é sustentável. Ora, para o Homem (e qualquer outra espécie) a única receita sustentável é dada pelas energias renováveis, em especial a solar, a eólica e a hídrica, até agora. Apenas aquilo que a Terra e o Sol nos dão de forma permanente nos permitirá atingir um equilíbrio energético a longo prazo, após a depleção dos combustíveis fósseis, incluindo o urânio. Este é infelizmente muito inferior às necessidades actuais da Humanidade. Assim, segundo Kunstler, o Homem terá de rever de forma drástica o seu modo de vida - em especial os americanos e os seus subúrbios de quilómetros e quilómetros quadrados - regressando inevitavelmente à comunidade local.
Não concordo com Kunstler em muita coisa, em especial na forma como retrata a economia capitalista e, a seu ver, a sua consequência última, a globalização. Para ele, toda ela foi fruto dos combustíveis fósseis, uma espécie de bizarria em vias de extinção. Kunstler não compreende que a globalização não teria de ser obrigatoriamente capitalista, isto é, ela é ideologicamente neutra, como aliás se viu durante a vida do bloco comunista. Vive dos baixos custos de transporte, físicos e digitais. É tecnocrática. A ausência de petróleo aumentará os custos de transporte, esmagando a globalização. Mas o capitalismo é muito mais do que isso. É a forma de optimizar as trocas comerciais, sejam elas locais ou globais. A sua eficiência será posta em causa pela diminuição da concorrência, esmagada pelas distâncias, mas a sua razão de ser continuará. Porém, sou levado a acreditar que teremos de facto de mudar de vida, desperdiçando menos, adaptando-nos a uma nova realidade, dura e fria, à medida que os preços do petróleo e outras commodities finitas forem subindo. Sem petróleo e com seis biliões de habitantes, a Humanidade passará por um dos seus momentos mais difíceis, pior mesmo que o da desagregação do Império Romano. Mas temos de aprender a ver as ameaças como desafios e a acreditar na espécie humana.