Ideias Livres

segunda-feira, janeiro 23, 2006

As duas Direitas

Alguma direita conservadora não escondeu a sua simpatia para com Manuel Alegre ao longo da campanha eleitoral. Gostavam dos seus modos, dos seus hábitos, dos seus gostos. Como várias pessoas disseram, Alegre tinha tudo para ser um digno representante da direita tradicional.

Pelo contrário, muitos desses elementos olhavam - e olham - para Cavaco Silva com desdém. Não lhe reconhecem o mérito, não lhe valorizam o recolhimento. No fundo, concordaram com Soares nas várias acusações que este lhe fez. Votaram nele "porque tinha de ser".

Julgo que é aqui que se dá a grande fractura entre a direita tradicional, conservadora, estática e estatista, normalmente associada à antiga aristocracia e a direita moderna, globalizadora, dinâmica e liberal, que acredita no mercado e na sociedade como reequilibradores permanentes de forças. Enquanto a primeira nutre admiração por aqueles que têm tudo para ser de direita mas são de esquerda, como Alegre, por verem neles um pouco do que também eles julgam que foram em tempos, a segunda dá muito mais valor e reconhece-se mais em alguém que tem tudo para ser de esquerda mas é de direita, como Cavaco Silva.

Enquanto a primeira direita no fundo acredita na luta de classes - e foi a causa da sua existência - a segunda acredita na igualdade dinâmica e na luta individual.