Ideias Livres

sábado, janeiro 21, 2006

Pais e Filhos

Já por várias vezes discuti com amigos e família sobre qual a melhor forma de combater a pobreza entre os idosos, provavelmente o maior problema social com que nos deparamos, e que tem várias razões, algumas típicas das sociedades ocidentais em geral, outras endógenas, fruto do carácter opcional dos descontos para as Caixas de Previdência durante o Estado Novo.

Para mim, dou como certa uma coisa. A resposta reside na solidariedade geracional. Aqueles que, durante o meu desenvolvimento pessoal, desde a gestação até atingir a idade adulta, me apoiaram, muitas vezes com sacrifício pessoal, devem ver esse esforço retribuído quando - e se - chegar a sua vez de necessitar da ajuda de terceiros para manter a sua qualidade de vida. Cabe, portanto, aos filhos, de um modo genérico, apoiar os pais quando estes, chegados ao crepúsculo da vida, precisarem que alguém faça por eles o que estes fizeram vezes sem conta por outros. Esta é a forma correcta e equilibrada de uma sociedade lidar com os vários níveis etários da sua população e com as características inerentes a cada um deles. Os meus pais ajudaram-me, eu ajudo-os a eles.

Mas faço-o porque são meus pais? Em parte, talvez, mas essencialmente porque me ajudaram. Se tivesse sido abandonado pelos meus pais biológicos e adoptado, seria aos meus pais adoptivos que eu me sentiria ligado e que quereria ajudar sempre que precisassem. Se fosse órfão e vivesse toda a minha infância e adolescência numa instituição de acolhimento, gostaria talvez de retribuir à sociedade, de alguma forma, o bom ou mau tratamento que aí houvesse recebido. E, quem sabe, se considerasse que os meus pais me haviam tratado incorrectamente acabasse, consciente ou inconscientemente, por tender a tratá-los de forma semelhante. Por mais dificuldade que tenhamos em encarar o facto, a vida não é sempre um conto de fadas...

Vem este tema à baila a propósito da proposta do ministro da Segurança Social para que os filhos passem a ser obrigados, em determinadas situações, a ajudar financeiramente os pais. Assim, mete-se no mesmo saco milhares de realidades distintas, cada qual com a sua especificidade e não comparável com a do lado. Pela enésima vez a esquerda tenta legislar de forma a forçar a população a ter um comportamento por si considerado como adequado, esquecendo-se de que não lhe cabe esse papel. Este tipo de extorsão faz-me lembrar muitos daqueles casos de "pensões de alimentação" que as ex-mulheres - ou ex-maridos, consoante o lado em que se encontra a fortuna pessoal - tentam obter dos ex-cônjuges (pronto, assim dá para os dois casos...), no estilo Ivana Trump. E poderá ser mais uma caixa de Pandora que, por negligência e soberba, se poderá abrir na sociedade portuguesa.

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