O erro de Sócrates
Ao não apoiar Manuel Alegre como candidato oficial do Partido Socialista contra Cavaco Silva, José Sócrates terá cometido o seu primeiro grande erro de estratégia política desde que assumiu a presidência do Partido Socialista. Alguns poderão considerar que já havia cometido outros, nas autárquicas, com as estrondosas derrotas sofridas em Lisboa, por Carrilho, e no Porto, por Assis. Mas esses resultados foram, acima de tudo, da responsabilidade dos candidatos e foi assim que foram analisados pela comunicação social. Além do mais, os resultados globais do PS não terão sido catastróficos e são difíceis de comparar, a nível nacional, com os do PSD, dado o elevado número de votos obtidos pelos sociais-democratas em coligação com o CDS/PP.
Já no que diz respeito às eleições presidenciais - e a fazer fé nos valores das últimas sondagens disponíveis - não só o candidato oficial do PS não conseguirá ganhar as eleições, como corre o risco de ficar atrás de Manuel Alegre, o candidato rebelde. Alegre foi, aliás, o "joker" com que Sócrates não contou. Nunca lhe agradou a ideia de o apoiar, depois do embate do ano anterior para a liderança do partido. Porque um dos defeitos aparentes de Sócrates até agora será o de tomar decisões por razões de agenda pessoal e não de benefício colectivo, deixou-se levar pela tentação de se vingar de Alegre e, ao mesmo tempo, expôr Mário Soares a uma batalha quase impossível de vencer. Queria, em boa linguagem popular, matar dois coelhos de uma cajadada só, forçando o PS a entrar de corpo inteiro no século XXI tendo-o a si como Grande Timoneiro.
Infelizmente, a história tem o péssimo hábito de se escrever a ela própria, estragando muitas autobiografias que assim nunca poderão ser postas no papel... Alegre, sentindo-se humilhado, decidiu ir em frente, destruindo um eventual consenso em torno de Soares e expondo-o ao ridículo da sua candidatura. Porém, até aqui, ainda nada estava perdido para Sócrates. Não contando desde o início com a vitória de Soares, a candidatura de Alegre, apesar de incómoda, era suportável. Mas infelizmente para Sócrates, Soares queria mesmo ganhar. E, tal como num jogo de póquer, estava disposto a arriscar tudo. Incluindo a imagem do líder do seu partido.
Ao fazer declarações pouco dignas de um estadista, atacando de forma incorrecta Cavaco Silva e a imprensa, foi enaltecendo o perfil educado e nobre de Alegre, degradando mais ainda a sua imagem. Em vez de tirar votos a Cavaco ia dando os seus a Alegre. E à medida que o tempo passava e a sua estratégia não surtia efeito, o eventual voto útil em si ia-se dissipando, levando os socialistas a esquecer a posição oficial e a votar em quem preferiam como pessoa: Alegre. E assim, de forma irónica, em vez do filho seguir as pisadas do pai, parece que será o pai a copiar o filho. Uma desgraça.
E foi com toda esta sequência de acontecimentos que Sócrates nunca contou e com a qual terá de viver nos próximos tempos. Se Alegre ficar de facto à frente de Soares, Sócrates cometeu um terrível erro de julgamento e deverá responder por ele. Caso não queira perder a sua autoridade interna, resta-lhe pedir a demissão de secretário-geral do PS e convocar um congresso extraordinário para sufragar internamente a decisão da direcção do partido. Não o fazer será deixar uma ferida aberta, que dificilmente sarará.
Já no que diz respeito às eleições presidenciais - e a fazer fé nos valores das últimas sondagens disponíveis - não só o candidato oficial do PS não conseguirá ganhar as eleições, como corre o risco de ficar atrás de Manuel Alegre, o candidato rebelde. Alegre foi, aliás, o "joker" com que Sócrates não contou. Nunca lhe agradou a ideia de o apoiar, depois do embate do ano anterior para a liderança do partido. Porque um dos defeitos aparentes de Sócrates até agora será o de tomar decisões por razões de agenda pessoal e não de benefício colectivo, deixou-se levar pela tentação de se vingar de Alegre e, ao mesmo tempo, expôr Mário Soares a uma batalha quase impossível de vencer. Queria, em boa linguagem popular, matar dois coelhos de uma cajadada só, forçando o PS a entrar de corpo inteiro no século XXI tendo-o a si como Grande Timoneiro.
Infelizmente, a história tem o péssimo hábito de se escrever a ela própria, estragando muitas autobiografias que assim nunca poderão ser postas no papel... Alegre, sentindo-se humilhado, decidiu ir em frente, destruindo um eventual consenso em torno de Soares e expondo-o ao ridículo da sua candidatura. Porém, até aqui, ainda nada estava perdido para Sócrates. Não contando desde o início com a vitória de Soares, a candidatura de Alegre, apesar de incómoda, era suportável. Mas infelizmente para Sócrates, Soares queria mesmo ganhar. E, tal como num jogo de póquer, estava disposto a arriscar tudo. Incluindo a imagem do líder do seu partido.
Ao fazer declarações pouco dignas de um estadista, atacando de forma incorrecta Cavaco Silva e a imprensa, foi enaltecendo o perfil educado e nobre de Alegre, degradando mais ainda a sua imagem. Em vez de tirar votos a Cavaco ia dando os seus a Alegre. E à medida que o tempo passava e a sua estratégia não surtia efeito, o eventual voto útil em si ia-se dissipando, levando os socialistas a esquecer a posição oficial e a votar em quem preferiam como pessoa: Alegre. E assim, de forma irónica, em vez do filho seguir as pisadas do pai, parece que será o pai a copiar o filho. Uma desgraça.
E foi com toda esta sequência de acontecimentos que Sócrates nunca contou e com a qual terá de viver nos próximos tempos. Se Alegre ficar de facto à frente de Soares, Sócrates cometeu um terrível erro de julgamento e deverá responder por ele. Caso não queira perder a sua autoridade interna, resta-lhe pedir a demissão de secretário-geral do PS e convocar um congresso extraordinário para sufragar internamente a decisão da direcção do partido. Não o fazer será deixar uma ferida aberta, que dificilmente sarará.
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