O episódio Vivo tem posto a nu as incongruências do pensamento económico comunista pós-privatizações.
A esquerda marxista, partidária ou sindical, passa todo o seu abundante tempo de antena a discorrer sobre o interesse nacional e os centros estratégicos de poder, mantendo uma perspectiva de absoluta xenofobia económica.
Para eles, está em causa a manutenção de sectores estratégicos do serviço público em mãos portuguesas. Claro que este argumento é fortemente fundamentado em questões de ordem táctica, visto o grande objectivo de PC, BE e satélites sindiciais ser a renacionalização dessas empresas. Mas o seu medo ao grande capital anónimo (mesmo que sejam os seus PPRs...) é tal, que preferem tê-lo sob o controlo de meia dúzia de protegidos do sistema, mais facilmente atingíveis pelo "chicote" popular, do que nas mãos de empresas sedeadas em Madrid, Londres ou Nova Iorque e que se estão nas tintas para o que Louçãs e Jerónimos dizem em terras lusas.
No entanto, o caso Vivo é particularmente interessante visto abordar a intervenção de uma empresa privada portuguesa no estrangeiro. Seria de supôr, em nome da legitimidade popular sobre a economia, que os comunistas defenderiam a alienação de todos os investimentos realizados fora de Portugal. Às empresas portuguesas deve caber a satisfação das necessidades dos portugueses, não dos paulistas. Seria por isso expectável que defendessem a alienação imediata de todos os negócios além-fronteiras - como era aliás a situação antes das privatizações. Mas eis que não. Ainda terça-feira assisti a Ruben de Carvalho defendendo a utilização da golden share para impedir este negócio, o qual permitiria uma simpática entrada de divisas, alguma distribuição de dividendos devidamente tributada e a redução da PT à realidade geográfica nacional.
Sem ideologia, sobra apenas a demagogia...