O voto dourado
A organização das empresas reflecte com naturalidade, visto ser componente desta, a organização das sociedades. Pequenas organizações empresariais têm estruturas governativas semelhantes às de famílias ou de pequenas comunidades, grandes empresas organizam-se como grandes comunidades - cidades, regiões, estados. Se equipararmos as unidades de capital social (ou acções) a indivíduos, as empresas são governadas num regime democrático de proporcionalidade directa, em que a percentagem de capital é directamente proporcional, na medida do possível, à representação nos órgãos executivos da empresa. Assim é natural que, se alguém detiver 30% do capital de uma dada sociedade, tenha direito a eleger cerca de 30% dos administradores dessa sociedade. Existem muitas variações a esta regra-base, mas que costumam manter sempre a proporcionalidade relativa à propriedade da sociedade.
Esta é a prática comum entre cidadãos livres e independentes, iguais entre si. Infelizmente, o Estado decidiu entrar no(s) mercado(s), criando o chamado capitalismo de Estado, um perigoso enviesamento do capitalismo, em que os jogadores não podem, ao mesmo tempo, ser árbitros ou criar regras à medida das suas preferências. Uma das aberrações conceptuais criadas pelos Estados foi a da chamada "golden share", um truque legal que permite a um accionista especial - adivinhem qual... - desfazer-se de uma grande percentagem do capital de uma empresa (que, muitas vezes, ele próprio havia nacionalizado anos antes), encher os cofres de dinheiro para pagar o crónico défice público e manter uma quantidade simbólica de acções que lhe dão direitos especiais na governação das empresas.
Até ao século XVIII, a própria governação das sociedades era feita de forma semelhante. A isso chamou-se, com o passar do tempo, feudalismo ou absolutismo, conforme a modalidade aplicada, e foi sendo substituída, normalmente pela força, pela Europa fora, por sistemas de governação mais democráticos. Parece, no entanto, que boa parte do poder político conduz a sua conduta mais pelo pragmatismo cego que tudo aceita do que pela verticalidade ideológica, clamando pelos direitos e liberdades dos cidadãos por um lado e defendendo sistemas de governo de sociedades não-representativos.
As "golden share" - ou outros truques que visem desvirtuar a proporcionalidade na representação dos membros de uma sociedade no seu governo - são um atentado à liberdade dos membros prejudicados - quase sempre 100% dos accionistas - e à credibilidade dos mercados, que se querem transparentes e com regras universais e bem conhecidas por todos e devem desaparecer do enquadramento legal português - mas não da nossa memória...
Esta é a prática comum entre cidadãos livres e independentes, iguais entre si. Infelizmente, o Estado decidiu entrar no(s) mercado(s), criando o chamado capitalismo de Estado, um perigoso enviesamento do capitalismo, em que os jogadores não podem, ao mesmo tempo, ser árbitros ou criar regras à medida das suas preferências. Uma das aberrações conceptuais criadas pelos Estados foi a da chamada "golden share", um truque legal que permite a um accionista especial - adivinhem qual... - desfazer-se de uma grande percentagem do capital de uma empresa (que, muitas vezes, ele próprio havia nacionalizado anos antes), encher os cofres de dinheiro para pagar o crónico défice público e manter uma quantidade simbólica de acções que lhe dão direitos especiais na governação das empresas.
Até ao século XVIII, a própria governação das sociedades era feita de forma semelhante. A isso chamou-se, com o passar do tempo, feudalismo ou absolutismo, conforme a modalidade aplicada, e foi sendo substituída, normalmente pela força, pela Europa fora, por sistemas de governação mais democráticos. Parece, no entanto, que boa parte do poder político conduz a sua conduta mais pelo pragmatismo cego que tudo aceita do que pela verticalidade ideológica, clamando pelos direitos e liberdades dos cidadãos por um lado e defendendo sistemas de governo de sociedades não-representativos.
As "golden share" - ou outros truques que visem desvirtuar a proporcionalidade na representação dos membros de uma sociedade no seu governo - são um atentado à liberdade dos membros prejudicados - quase sempre 100% dos accionistas - e à credibilidade dos mercados, que se querem transparentes e com regras universais e bem conhecidas por todos e devem desaparecer do enquadramento legal português - mas não da nossa memória...
2 Comments:
Hoje vou fazer de advogado do Diabo.
É ou não verdade que quem investe em empresas "minadas" pela golden share já sabe ao que vai e que aceita livremente essa (chata) condicionante. Se o fazem é porque, apesar de tudo existem vantagens em fazê-lo.
Não vejo a golden-share como mais uma pulhice estatal, mas sim como algo que uma sociedade dinâmica e competitiva deveria rejeitar.
Abraços
By Anónimo, at 1:37 da manhã
Bom, Nuno, a meu ver é uma "pulhice estatal" pois visa manter um controlo que as regras comuns de mercado não lhe atribuem. Isso não significa que os accionistas não tenham conhecimento da situação, claro. Infelizmente, sabemos que muitas das consequências dessas "golden share" foram camufladas aquando das privatizações das empresas (EDP e PT) para transmitir pujança, vitalidade e mudança ao mercado - precisamente o contrário do que, nos bastidores, tentavam fazer com esse poder absoluto. E portanto o pequeno investidor foi, de facto, enganado. O Estado tem impedido remodelações mais agressivas nestas empresas, confundindo o seu papel accionista com o social (conflito inevitável...) e impedindo o aumento de competitividade das mesmas.
Mas não deixas de, em abstracto e como discussão geral do conceito de golden share, ter alguma razão...
Abraço,
Diogo
By Diogo Almeida, at 3:44 da tarde
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