Pequena reflexão sobre verticalidade
Imaginei que, num universo alternativo, o aborto era legal, no nosso país, até às 12 semanas.
Que na maioria dos países civilizados esse acto já havia sido proibido.
Que se havia realizado um referendo para proibir o aborto mas que esta hipótese havia sido chumbada pela maioria das pessoas que tinham votado.
Nesse mundo imaginário aqueles que defendiam a proibição do aborto achavam que, como a votação não havia sido expressiva, não era também representativa, pelo que se deveria fazer novo referendo assim que possível.
Porém, os partidos de direita, defensores da proibição, perderam a maioria no parlamento para a esquerda, reaccionária, pró-aborto. Durante este período esta nunca permitiu que se aprovasse novo referendo no Parlamento.
Os partidos mais violentamente proibicionistas faziam grandes manifestações à porta das unidades hospitalares onde eram praticadas estas ablações. Usavam esta questão como bandeira eleitoral sempre que podiam, fazendo discursos com frases como "é inadmissível que, em pleno século XXI, futuras crianças sejam assassinadas pelas próprias mães, assistindo o Estado, impassível, a tudo isto!" ou "a liberalização do aborto é uma violentação de muitas mulheres, pressionadas pela sociedade, pelos maridos, pelos patrões, pelos pais, a expurgarem um "obstáculo" no seu obrigatório caminho para o sucesso".
No volte-face político seguinte, a direita voltou a estar em maioria no parlamento. Tentou, no espaço de seis meses, por duas vezes, levar a cabo um referendo. Da primeira, queriam que este se realizasse em pleno Verão. Da segunda, aprovaram no Parlamento a realização do referendo, mesmo com a generalidade dos constitucionalistas a dizer que esta aprovação, nestes moldes, seria uma violação da Constituição. Mas nada disto lhes interessava, pois era a vida daquelas crianças que estava em jogo. O tiro saiu-lhes pela culatra. O Tribunal Constitucional, ao qual o Presidente recorrera, concluíra pela inconstitucionalidade. Os mais radicais partidos de direita exigiram então que o Parlamento esquecesse o referendo. Este que decidisse, agora que tinha maioria de direita. As crianças não podiam esperar. E, num referendo, estas estariam sempre em desvantagem, pois não poderiam expressar a sua posição...
Imaginei tudo isto e veio-me à cabeça uma interrogação:
O que diriam de toda este esquema pouco democrático pessoas tão íntegras e moralmente inatacáveis como são os dirigentes do Bloco de Esquerda?
Que na maioria dos países civilizados esse acto já havia sido proibido.
Que se havia realizado um referendo para proibir o aborto mas que esta hipótese havia sido chumbada pela maioria das pessoas que tinham votado.
Nesse mundo imaginário aqueles que defendiam a proibição do aborto achavam que, como a votação não havia sido expressiva, não era também representativa, pelo que se deveria fazer novo referendo assim que possível.
Porém, os partidos de direita, defensores da proibição, perderam a maioria no parlamento para a esquerda, reaccionária, pró-aborto. Durante este período esta nunca permitiu que se aprovasse novo referendo no Parlamento.
Os partidos mais violentamente proibicionistas faziam grandes manifestações à porta das unidades hospitalares onde eram praticadas estas ablações. Usavam esta questão como bandeira eleitoral sempre que podiam, fazendo discursos com frases como "é inadmissível que, em pleno século XXI, futuras crianças sejam assassinadas pelas próprias mães, assistindo o Estado, impassível, a tudo isto!" ou "a liberalização do aborto é uma violentação de muitas mulheres, pressionadas pela sociedade, pelos maridos, pelos patrões, pelos pais, a expurgarem um "obstáculo" no seu obrigatório caminho para o sucesso".
No volte-face político seguinte, a direita voltou a estar em maioria no parlamento. Tentou, no espaço de seis meses, por duas vezes, levar a cabo um referendo. Da primeira, queriam que este se realizasse em pleno Verão. Da segunda, aprovaram no Parlamento a realização do referendo, mesmo com a generalidade dos constitucionalistas a dizer que esta aprovação, nestes moldes, seria uma violação da Constituição. Mas nada disto lhes interessava, pois era a vida daquelas crianças que estava em jogo. O tiro saiu-lhes pela culatra. O Tribunal Constitucional, ao qual o Presidente recorrera, concluíra pela inconstitucionalidade. Os mais radicais partidos de direita exigiram então que o Parlamento esquecesse o referendo. Este que decidisse, agora que tinha maioria de direita. As crianças não podiam esperar. E, num referendo, estas estariam sempre em desvantagem, pois não poderiam expressar a sua posição...
Imaginei tudo isto e veio-me à cabeça uma interrogação:
O que diriam de toda este esquema pouco democrático pessoas tão íntegras e moralmente inatacáveis como são os dirigentes do Bloco de Esquerda?
2 Comments:
D,
Medo do resulto de um referendo?
Abraço,
FS
By Anónimo, at 4:23 da tarde
Nem um pouco. Acho que é a única maneira de se resolver esta questão. Mas nunca indo contra a lei.
Por outro lado, se a liberalização do aborto for favoravelmente referendada, não terão os que estão contra a legalização o direito de exigir novo referendo no futuro? Não era a primeira vez...
By Diogo Almeida, at 7:45 da tarde
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