Ideias Livres

quinta-feira, setembro 08, 2005

O pequeno demagogo

As declarações de Francisco Louçã a propósito das pontuais medidas anunciadas pelo governo para combate aos incêndios florestais, mormente a aquisição de uma frota própria, são de uma pobreza intelectual e de uma demagogia gritantes, fazendo parte da guerra fundamentalista que desde novo proclamou contra o capitalismo, servindo ainda para soltar mais um dos seus sound bytes populistas contra Dias Loureiro, próximo de Cavaco Silva, não se coibindo de dizer meias verdades e omitir factos importantes.

Para ele, se uma maternidade tem lucro, explora a alegria dos progenitores.
Se uma empresa de produtos lácteos tem lucro, explora a preocupação materna.
Se uma escola tem lucro, explora o direito fundamental ao conhecimento.
Se uma discoteca tem lucro, explora a ingenuidade dos jovens utilizadores.
Se uma empresa de organização de casamentos tem lucro, explora o carácter único do momento.
Se um jornal tem lucro, explora o direito do cidadão à informação.
Se uma agência de férias tem lucro, explora o direito do trabalhador ao merecido descanso.
Se uma empresa de serviços médicos tem lucro, explora os doentes.
Se uma empresa de serviços funerários tem lucro, explora os fragilizados familiares dos defuntos.

Toda a actividade comercial se transforma, aos seus míopes olhos, num braço armado da exploração do homem pelo homem. Para Louçã, tudo entra no mesmo saco, não querendo reconhecer o que evidentemente sabe que existe e que é a base da economia humana e suporte do capitalismo: o valor acrescentado. Quem sabe por ele próprio nunca ter sido capaz de o criar. No fundo, ele, economista, é a némesis da educação económica em Portugal, num processo mental a pedir a intervenção urgente de um psicanalista.

Resta-me pensar que, se um político diz barbaridades destas, explora a ignorância do povo.