Uma história em forma de espelho
Além de me recordar genes magrebinos ocultos em nove meses de pele clara, o sol algarvio serviu também para ler um livro que tinha comprado há mais de um ano - serão dois? - e que vinha ficando para trás, por não correr o risco de se desactualizar.
História de Lisboa, de Dejanirah Couto, publicado pela Gótica em 2003, descreve, não de forma exaustiva, nem pretensamente científica, mas numa interpretação claramente pessoal, a história da minha cidade. Não é uma obra romântica nem épica, tendo muito mais de cínica e sarcástica, conseguindo por vezes incomodar-nos pela forma como desmistifica lirismos e mitos lisboetas e nacionais. Acaba por fazer também uma breve história de Portugal, inevitável para quem descreve a evolução da capital pluricentenária da nação. Portugal é visto como um colectivo sociológico ignorante, apresentando sintomas claros de bipolaridade, alternando entre os insustentáveis consumismo e ostentação novos-ricos, dos pós-descobrimentos do século XVI, do ouro brasileiro do século XVIII e, fora do âmbito do livro, dos subsídios comunitários do final do século XX, e o fatalismo miserabilista e descontrolado que sempre se seguiu a esses frenesis semipatológicos, numa amálgama de obsessão religiosa, costumes panteístas e deboche imoral, pontuado ocasionalmente por momentos de genialidade e racionalismo, pelas mãos de Filipa de Lancastre e da Ínclita Geração, pela presença salutar de moçárabes e cristãos novos - antes de serem perseguidos, mortos ou expulsos, e pelo trabalho individual de homens como D. João II, o Marquês de Pombal ou Duarte Pacheco.
Pese embora uma certa dificuldade em julgar determinados comportamentos de acordo com a moral da época em que estes ocorrem, a autora consegue colocar o dedo na ferida em várias ocasiões, ajudando-nos a compreender melhor as nossas fraquezas e a razão actual da nossa aparente inviabilidade socio-económica.
História de Lisboa, de Dejanirah Couto, publicado pela Gótica em 2003, descreve, não de forma exaustiva, nem pretensamente científica, mas numa interpretação claramente pessoal, a história da minha cidade. Não é uma obra romântica nem épica, tendo muito mais de cínica e sarcástica, conseguindo por vezes incomodar-nos pela forma como desmistifica lirismos e mitos lisboetas e nacionais. Acaba por fazer também uma breve história de Portugal, inevitável para quem descreve a evolução da capital pluricentenária da nação. Portugal é visto como um colectivo sociológico ignorante, apresentando sintomas claros de bipolaridade, alternando entre os insustentáveis consumismo e ostentação novos-ricos, dos pós-descobrimentos do século XVI, do ouro brasileiro do século XVIII e, fora do âmbito do livro, dos subsídios comunitários do final do século XX, e o fatalismo miserabilista e descontrolado que sempre se seguiu a esses frenesis semipatológicos, numa amálgama de obsessão religiosa, costumes panteístas e deboche imoral, pontuado ocasionalmente por momentos de genialidade e racionalismo, pelas mãos de Filipa de Lancastre e da Ínclita Geração, pela presença salutar de moçárabes e cristãos novos - antes de serem perseguidos, mortos ou expulsos, e pelo trabalho individual de homens como D. João II, o Marquês de Pombal ou Duarte Pacheco.
Pese embora uma certa dificuldade em julgar determinados comportamentos de acordo com a moral da época em que estes ocorrem, a autora consegue colocar o dedo na ferida em várias ocasiões, ajudando-nos a compreender melhor as nossas fraquezas e a razão actual da nossa aparente inviabilidade socio-económica.
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