Ideias Livres

quinta-feira, agosto 25, 2005

Anarquistas, jihadistas e liberais

O Economist desta semana traz um interessante artigo focando as semelhanças entre os movimentos terroristas actuais e os de final do século XIX. Foca a importância que estes tiveram à data, compara a semelhança das reacções dos responsáveis políticos de então com os de hoje e descreve a evolução do movimento anarquista revolucionário, desde a sua origem inspiradora, Proudhon, até aos seus gurus mais radicais, Bakunin e Kropotkine.

Falta-lhe, porém, ir um pouco mais longe na análise e tirar mais algumas ilações do passado para que não cometamos os mesmos erros no futuro. Foram estes movimentos terroristas anarquistas, que visavam a destruição não apenas do Estado, mas também, e acima de tudo, do capitalismo e da burguesia - daí a semelhança quanto ao inimigo para com os jihadistas dos dias de hoje - que minaram a sociedade ocidental da segunda metade do século XIX e, com a onda de violência que criaram, ajudaram a criar sentimentos de insegurança que facilmente se transformam em focos de xenofobia, vírus mortal para o liberalismo. Os sucessivos atentados contra figuras públicas de topo - ministros, monarcas e industriais - minaram a estabilidade dos países e catalisaram as fraquezas existentes, tendo inclusivamente provocado a I Guerra Mundial e, antes, em Portugal, com o assassínio de D. Carlos, a queda do regime. As várias nações foram-se fechando sobre si mesmas, desconfiadas dos seus vizinhos, o que levou a uma maior intervenção estatal. Foi o princípio do fim do liberalismo novecentista, que durante meio século havia ajudado a desenvolver as principais economias mundiais. A partir daí, e até ao final da II Guerra Mundial, os países voltaram-se a fechar sobre si mesmos, com graves consequências para o sector económico como se pôde ver durante a década de 30.

Por tudo isto, a única resposta possível ao terrorismo é maior abertura e interdependência das economias, como foca Martin Wolf num excelente artigo publicado no Financial Times em Julho passado, intitulado Tough liberalism is the only response, em que refere que "o liberalismo é o único credo unificador para um mundo dividido".