Economia estática, mercados dinâmicos

As últimas semanas têm sido de verdadeira agitação social em vários países europeus e em especial na Península Ibérica. O aumento do preço do petróleo - provocado pela subida progressiva da procura e uma quase-estagnação da oferta, depois de muitos anos de sub-investimento na indústria petrolífera, em grande parte da responsabilidade de empresas estatais mergulhadas em burocracia e corrupção - trouxe para cima da mesa algumas das deficiências de sectores de actividade em que os custos de combustível assumem um peso significativo na sua estrutura de custos.
Em Portugal, primeiro os pescadores, seguidos dos transportadores rodoviários de mercadorias, vieram a terreiro exigir a redução do preço dos combustíveis, que dizem ter corroído na totalidade as suas margens. Não é difícil imaginar que tal possa ter sucedido, caso estes se encontrem presos por contratos de preço fixo, que não tenham em conta a evolução do preço dos combustíveis.
Claro que num mercado com intervenientes esclarecidos e dispostos a usar todas as ferramentas ao seu alcance, poderíamos imaginar os pescadores (e os transportadores ou os taxistas, por exemplo) a associarem-se e a criarem fundos de investimento que lhes permitissem fazer hedging do preço dos combustíveis, eliminando esse risco da sua actividade. No entanto, nada disso foi imaginado. Imobilizados pela sua incapacidade, limitaram-se a virar-se uma vez mais, de forma populista, contra o Estado. Assumiram uma atitude pueril, "fazendo birra" e, qual menino mimado que não sabendo jogar é porém dono da bola, impediram todos os outros cidadãos de continuar o seu caminho caso não jogassem o seu jogo - subsídio sob a forma de ISP reduzido.
Esta foi uma vez mais a imagem de um país diminuído e de uma economia estática e subdesenvolvida, em permanente dependência do Estado, incapaz de reagir à adversidade (e de tirar proveito do sucesso temporário, que lhe surge por vezes e de surpresa). Em vez de procurar alternativas acessíveis a qualquer pequeno investidor, bloqueia lotas e estradas e exigindo a subsidiação da sua incapacidade. Vislumbra-se um futuro negro.