Ideias Livres

quinta-feira, maio 18, 2006

O risco de viver sem risco

Segundo o Diário Digital, "o Parlamento Europeu aprovou hoje a criação de mecanismos comunitários de prevenção e luta contra as catástrofes naturais, como a seca e incêndios florestais, que incluem um seguro agrícola europeu e a elaboração de mapas de risco".

Continuamos a senda agro-subsidiadora, gastando 50 milhões de euros, só em Portugal, em seguros contra as geadas, trombas de água e granizo. Agora, e dada a tendência de seca no Sul da Europa, os eurodeputados destas regiões correram a incluir a seca e os incêndios florestais como potencialmente seguráveis - via erário público. Qualquer outro ramo de actividade, caso o deseje, terá de efectuar os seus próprios seguros. Esta é mesmo uma forma de obrigar os actores do mercado a ponderar estratégias de combate aos efeitos em alternativa - ou em paralelo - ao seguro. Efectuar, por conta dos cidadãos e sem custo para quem quer fazer disso a sua vida, seguros contra estes fenómenos é fomentar as más práticas que têm em parte contribuído para a sua existência. Criar um seguro contra incêndios florestais, a custo zero, e depois coagir, por via da lei, a limpeza das matas, é um duplo custo para o Orçamento de Estado. Primeiro, no seguro, depois, na fiscalização dessa limpeza e, muitas vezes, na criação das equipas que a levarão a cabo.

As políticas intervencionistas e paternalistas são, regra geral, ciclos viciosos de desresponsabilização e esbanjamento dos quais se torna muito difícil sair e de consequências altamente perniciosas. Acabamos a viver num mundo em que se subsidiam produções que necessitam de grandes quantidades de água para, em seguida, se subsidiar a seca, fomentada por essas mesmas produções. O agricultor, esse, anda atrás da melhor cenoura, perdendo a capacidade de interpretação racional da realidade em que vive, devido aos incentivos a que vai sendo artificialmente exposto. O ambiente degrada-se, a par da economia, conduzindo a nossa qualidade de vida para o fundo. Isto aconteceu, em larga escala, no bloco de leste, e nada aprendemos com o seu exemplo. Até quando?