A Primeira Dama
O ser humano guarda, no seu código genético, restos do seu passado que hoje pouco ou nada significam. Imperfeições que o tempo se encarregará de corrigir - ou não, dados os artificialismos a que cada vez mais estamos sujeitos e que afastam a nossa realidade biológica do darwinismo do mundo selvagem. Exemplos disso são o apêndice, o cóccix e, porque não, o farto pêlo que muitos homens e mulheres ainda apresentam. Não significa que sejam muito prejudiciais. Se assim fosse a própria natureza se teria encarregado de as fazer desaparecer. São, no mínimo, inúteis, e, na pior das hipóteses, anacrónicas. Mas a evolução faz-se aos poucos e tem destas coisas.
Faço esta introdução para vos tentar transmitir qual é a minha interpretação para a existência do conceito de Primeira Dama. É uma espécie de cóccix. Está lá, não chateia, é uma característica inútil com a qual vivemos e à qual até achamos uma certa piada. Mas não faz sentido que exista. Em vez de Primeira Dama - adaptado dos EUA - deveríamos chamar-lhes "D. Amélia", em homenagem à última rainha de Portugal. Porque, no fundo, é esse o papel que ela representa. Vernissages, caridade, crianças. Ela não resolve, ela apoia. Mete uma cunha ao rei, à noite, antes de dormir. Gostava de ajudar mas não pode. Ela não manda nada.
A República, aliada à democracia liberal, presume que qualquer cidadão, seja qual for a sua origem, pode almejar a atingir os vários órgãos de poder, devendo para tal ser democraticamente eleito. Os cidadãos assumem profissionalmente funções como um médico veste uma bata ou um juíz uma beca. Chega ao tribunal, põe a beca, sai do tribunal, tira a beca. De regresso a casa, são cidadãos - que podem ou não ser chamados a qualquer momento ao exercício das suas funções. E não pode nem deve ser de outra forma. Também o Presidente da República regressa a casa como um normal cidadão, pelo que a sua esposa não está casada com o Chefe de Estado mas com o cidadão que exerce esse cargo. Em suma, a Primeira Dama não existe. E seria um acto de grande coragem se o nosso recém-eleito Presidente assumisse essa realidade, mantendo a sua esposa o mais afastada possível dos holofotes e sem qualquer intervenção oficial, cortando rente uma tradição serôdia e sem justificação.
Faço esta introdução para vos tentar transmitir qual é a minha interpretação para a existência do conceito de Primeira Dama. É uma espécie de cóccix. Está lá, não chateia, é uma característica inútil com a qual vivemos e à qual até achamos uma certa piada. Mas não faz sentido que exista. Em vez de Primeira Dama - adaptado dos EUA - deveríamos chamar-lhes "D. Amélia", em homenagem à última rainha de Portugal. Porque, no fundo, é esse o papel que ela representa. Vernissages, caridade, crianças. Ela não resolve, ela apoia. Mete uma cunha ao rei, à noite, antes de dormir. Gostava de ajudar mas não pode. Ela não manda nada.
A República, aliada à democracia liberal, presume que qualquer cidadão, seja qual for a sua origem, pode almejar a atingir os vários órgãos de poder, devendo para tal ser democraticamente eleito. Os cidadãos assumem profissionalmente funções como um médico veste uma bata ou um juíz uma beca. Chega ao tribunal, põe a beca, sai do tribunal, tira a beca. De regresso a casa, são cidadãos - que podem ou não ser chamados a qualquer momento ao exercício das suas funções. E não pode nem deve ser de outra forma. Também o Presidente da República regressa a casa como um normal cidadão, pelo que a sua esposa não está casada com o Chefe de Estado mas com o cidadão que exerce esse cargo. Em suma, a Primeira Dama não existe. E seria um acto de grande coragem se o nosso recém-eleito Presidente assumisse essa realidade, mantendo a sua esposa o mais afastada possível dos holofotes e sem qualquer intervenção oficial, cortando rente uma tradição serôdia e sem justificação.
2 Comments:
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By Anónimo, at 12:53 da tarde
Está muito bom!
Mas as tuas interrogações têm uma resposta. A Primeira Dama é uma espécie de bobo da corte (sem ofensa). É ele que entretém o povo (parte dele), é ele que dá que falar nas revistas mais ou menos supérfluas. É ela que está casada com aquele senhor muito importante que faz umas coisas muito chatas e discursos ainda piores. É ela que vende revistas. Tal como "A Bola" vive do futebol, as "Caras" vivem de Primeiras Damas.
Vendo bem as coisas, objectivamente, o futebol também é, cada vez mais, algo de primitivo para que justifique a atenção que atrai. Mas o que é certo é que atrai e é motivo de conversa constante.
Portanto, enquanto o mercado o justificar, quer o Presidente ou a esposa queira quer não, haverá sempre uma primeira dama. Nem mesmo a esposa do Eng.Gueterres escapou, mas o próprio mercado não se interessava muito pela figura...
Abraços e continua a dar-lhe com força.
By Anónimo, at 6:10 da tarde
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