A França não é uma sociedade liberal
As principais reclamações dos delinquentes franceses que têm provocado distúrbios, causado o pânico e a desordem e cometido uma série infindável de crimes nos últimos dias em França são:
- Discriminação étnica em virtude da sua origem magrebina
- Guetização das suas comunidades em bolsas nos arredores de Paris
- Falta de qualidade no ensino ministrado nas suas áreas de residência
- Elevado desemprego jovem
A esquerda, num misto de excitação pueril - ah, o Maio de 68... - e deformação ideológica - allez Bom Selvagem - aponta baterias ao liberalismo, versão neo ou ultra, consoante o guru que sigam. Importa, portanto, dissecar cada um dos pontos acima referidos e tentar compreender como se chegou a tal limiar de falta de coesão social.
1. Discriminação étnica
Os franceses têm uma noção de superioridade moral e histórica, filha do jacobinismo e do bonapartismo. Este é o traço unificador da grande maioria dos franceses, votem eles Front National, Chirac, PSF ou "Bloque de Gauche". Esta característica, associada a uma sociedade pouco dinâmica e bem estratificada, potenciou a xenofobia e fez com que os recém-chegados, os "estrangeiros", entrassem por baixo e aí ficassem. Mesmo a comunidade lusófona, apesar das maiores semelhanças sociais com os locais face aos magrebinos, teve sempre bastante dificuldade em se integrar e os casos de sucesso são muito inferiores aos ocorridos nos EUA e no Canadá.
São, nesta perspectiva, compreensíveis algumas das reclamações, vindas de jovens que se sentem apátridas, aberrações antropológicas, filhos bastardos de um pai que envergonham e que lhes paga para não os ver.
Uma sociedade liberal não julga um indivíduo por apenas uma das suas inúmeras características.
A França não é uma sociedade liberal.
2. Guetização
Na sequência da descolonização milhares de cidadãos argelinos atravessaram o Mediterrâneo rumo a França, na esperança de um mundo melhor. Assim se construiu e alimentou o Sonho Americano e assim se constroem sociedades dinâmicas, inovadoras e empreendedoras. Porém, como vimos no ponto anterior, a França nada tem a ver com essa realidade. As oportunidades não surgiram num país de tal forma dependente do Estado que o poder económico e político se misturam, em que os administradores das empresas provêm das Direcções-Gerais que por sua vez provêm das Grand Ècoles. A França é um país dominado por uma pequena elite que estudou toda na mesma escola.
Sem conseguirem entrar na economia da sua nova pátria e, muitas vezes, não aceitando absorver alguns dos valores locais, estas comunidades criaram bairros de lata nos subúrbios das grandes cidades - os famosos bidonville. A elite local, chocada e envergonhada com tal indigência, achou que tinha de agir rapidamente, fazer algo para que as visitas não lhe apontassem o dedo por ter alguém a viver ao relento no seu jardim. Em vez de lhes dar condições para entrarem na vida activa e para educarem os seus filhos, preferiram pô-los a viver na cave. O Estado francês construiu bairros inteiros onde colocou as comunidades magrebinas, em vez de promover o desenvolvimento social destes indivíduos, em par de igualdade com os restantes cidadãos.
Uma sociedade liberal não leva a cabo o planeamento centralizado, eternizando a segregação.
A França não é uma sociedade liberal.
3. Falta de qualidade no ensino
Os filhos dos imigrantes do Norte de África, nascidos e criados em França e cidadãos franceses por direito, começaram a utilizar as escolas públicas. Os seus pais, que viram durante décadas a sua pobreza e dependência do Estado eternizarem-se, sem que a sociedade lhes propiciasse as condições endógenas e exógenas que conduzissem à melhoria das suas condições de vida, não tinham possibilidade de colocar os seus filhos numa boa escola privada e viam-se impedidos de os colocar nas boas escolas públicas dos bairros ricos. Assim, eram forçados pelo Estado a colocar os filhos nas escolas dos seus bairros, continuações do gueto em que viviam. Não lhes era exigido muito, na esperança de que atingissem a escolaridade mínima e deixassem de esbanjar os recursos do Estado - apenas para de seguida terem direito a um subsídio de inserção social, a um estágio subvencionado na Mairie, a um apoio financeiro de uma das muitas ONG que trabalham no bairro...
Em vez de tirar partido das capacidades individuais de cada cidadão, de as saber avaliar e orientar, o Estado francês fez o melhor que podia: generalizou e catalogou bairros, freguesias, arrondissements e usou as práticas habituais dos regimes socialistas, que discriminaram ciganos e outras minorias étnicas em nome do grande colectivo.
Uma sociedade liberal não impede a livre expressão e desenvolvimento das capacidades dos seus cidadãos, independentemente de raças ou credos.
A França não é uma sociedade liberal.
4. Elevado desemprego jovem
Fruto do chamado Modelo Social Europeu, que protege os trabalhadores independentemente do seu empenho e dedicação e que, devido ao enorme poder dado aos sindicatos, discrimina aqueles que não pertencem ao mercado do trabalho, promovendo o desemprego de longa duração, diminuindo a produtividade e, em consequência, a competitividade das empresas e a criação de mais empregos, o desemprego entre os jovens disparou por toda a Europa e em especial nos países com legislação laboral mais proteccionista. Assim sendo, em França, os jovens de origem magrebina, já de si em desvantagem face aos protegidos do sistema centralista e estatista, vêm-na ser agravada pelo elevado desemprego jovem. Face a esta situação exasperante, mas sem o drama trágico da fome ou da miséria, viram-se numa espécie de jaula de macacos, em que lhes dão de comer e os tratam bem mas não os deixam ser donos das suas escolhas.
Uma sociedade liberal cria condições de competitividade nos mercados que potenciam a dinâmica laboral e minimizam o desemprego de longo prazo e a frustração social.
A França não é uma sociedade liberal.
PS (10 Nov, 9:45) - As razões de uma acção não a desculpam. Não fazer cumprir o estado de direito sobre cidadãos que desrespeitam claramente a lei apenas porque pertencem a um dado sub-grupo da população é discriminar a restante população, perpetuando os erros do passado. Por tudo o que disse antes, apenas analisando e julgando individualmente os cidadãos podemos criar uma sociedade liberal.
- Discriminação étnica em virtude da sua origem magrebina
- Guetização das suas comunidades em bolsas nos arredores de Paris
- Falta de qualidade no ensino ministrado nas suas áreas de residência
- Elevado desemprego jovem
A esquerda, num misto de excitação pueril - ah, o Maio de 68... - e deformação ideológica - allez Bom Selvagem - aponta baterias ao liberalismo, versão neo ou ultra, consoante o guru que sigam. Importa, portanto, dissecar cada um dos pontos acima referidos e tentar compreender como se chegou a tal limiar de falta de coesão social.
1. Discriminação étnica
Os franceses têm uma noção de superioridade moral e histórica, filha do jacobinismo e do bonapartismo. Este é o traço unificador da grande maioria dos franceses, votem eles Front National, Chirac, PSF ou "Bloque de Gauche". Esta característica, associada a uma sociedade pouco dinâmica e bem estratificada, potenciou a xenofobia e fez com que os recém-chegados, os "estrangeiros", entrassem por baixo e aí ficassem. Mesmo a comunidade lusófona, apesar das maiores semelhanças sociais com os locais face aos magrebinos, teve sempre bastante dificuldade em se integrar e os casos de sucesso são muito inferiores aos ocorridos nos EUA e no Canadá.
São, nesta perspectiva, compreensíveis algumas das reclamações, vindas de jovens que se sentem apátridas, aberrações antropológicas, filhos bastardos de um pai que envergonham e que lhes paga para não os ver.
Uma sociedade liberal não julga um indivíduo por apenas uma das suas inúmeras características.
A França não é uma sociedade liberal.
2. Guetização
Na sequência da descolonização milhares de cidadãos argelinos atravessaram o Mediterrâneo rumo a França, na esperança de um mundo melhor. Assim se construiu e alimentou o Sonho Americano e assim se constroem sociedades dinâmicas, inovadoras e empreendedoras. Porém, como vimos no ponto anterior, a França nada tem a ver com essa realidade. As oportunidades não surgiram num país de tal forma dependente do Estado que o poder económico e político se misturam, em que os administradores das empresas provêm das Direcções-Gerais que por sua vez provêm das Grand Ècoles. A França é um país dominado por uma pequena elite que estudou toda na mesma escola.
Sem conseguirem entrar na economia da sua nova pátria e, muitas vezes, não aceitando absorver alguns dos valores locais, estas comunidades criaram bairros de lata nos subúrbios das grandes cidades - os famosos bidonville. A elite local, chocada e envergonhada com tal indigência, achou que tinha de agir rapidamente, fazer algo para que as visitas não lhe apontassem o dedo por ter alguém a viver ao relento no seu jardim. Em vez de lhes dar condições para entrarem na vida activa e para educarem os seus filhos, preferiram pô-los a viver na cave. O Estado francês construiu bairros inteiros onde colocou as comunidades magrebinas, em vez de promover o desenvolvimento social destes indivíduos, em par de igualdade com os restantes cidadãos.
Uma sociedade liberal não leva a cabo o planeamento centralizado, eternizando a segregação.
A França não é uma sociedade liberal.
3. Falta de qualidade no ensino
Os filhos dos imigrantes do Norte de África, nascidos e criados em França e cidadãos franceses por direito, começaram a utilizar as escolas públicas. Os seus pais, que viram durante décadas a sua pobreza e dependência do Estado eternizarem-se, sem que a sociedade lhes propiciasse as condições endógenas e exógenas que conduzissem à melhoria das suas condições de vida, não tinham possibilidade de colocar os seus filhos numa boa escola privada e viam-se impedidos de os colocar nas boas escolas públicas dos bairros ricos. Assim, eram forçados pelo Estado a colocar os filhos nas escolas dos seus bairros, continuações do gueto em que viviam. Não lhes era exigido muito, na esperança de que atingissem a escolaridade mínima e deixassem de esbanjar os recursos do Estado - apenas para de seguida terem direito a um subsídio de inserção social, a um estágio subvencionado na Mairie, a um apoio financeiro de uma das muitas ONG que trabalham no bairro...
Em vez de tirar partido das capacidades individuais de cada cidadão, de as saber avaliar e orientar, o Estado francês fez o melhor que podia: generalizou e catalogou bairros, freguesias, arrondissements e usou as práticas habituais dos regimes socialistas, que discriminaram ciganos e outras minorias étnicas em nome do grande colectivo.
Uma sociedade liberal não impede a livre expressão e desenvolvimento das capacidades dos seus cidadãos, independentemente de raças ou credos.
A França não é uma sociedade liberal.
4. Elevado desemprego jovem
Fruto do chamado Modelo Social Europeu, que protege os trabalhadores independentemente do seu empenho e dedicação e que, devido ao enorme poder dado aos sindicatos, discrimina aqueles que não pertencem ao mercado do trabalho, promovendo o desemprego de longa duração, diminuindo a produtividade e, em consequência, a competitividade das empresas e a criação de mais empregos, o desemprego entre os jovens disparou por toda a Europa e em especial nos países com legislação laboral mais proteccionista. Assim sendo, em França, os jovens de origem magrebina, já de si em desvantagem face aos protegidos do sistema centralista e estatista, vêm-na ser agravada pelo elevado desemprego jovem. Face a esta situação exasperante, mas sem o drama trágico da fome ou da miséria, viram-se numa espécie de jaula de macacos, em que lhes dão de comer e os tratam bem mas não os deixam ser donos das suas escolhas.
Uma sociedade liberal cria condições de competitividade nos mercados que potenciam a dinâmica laboral e minimizam o desemprego de longo prazo e a frustração social.
A França não é uma sociedade liberal.
PS (10 Nov, 9:45) - As razões de uma acção não a desculpam. Não fazer cumprir o estado de direito sobre cidadãos que desrespeitam claramente a lei apenas porque pertencem a um dado sub-grupo da população é discriminar a restante população, perpetuando os erros do passado. Por tudo o que disse antes, apenas analisando e julgando individualmente os cidadãos podemos criar uma sociedade liberal.
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