A América Latina em 3 actos
Como o AA bem me recordou, a 28 de Agosto chamei a atenção para um pequeno livro de Alvaro Vargas Llosa, que acabara de encomendar e prometera criticar mal o terminasse. Pois bem, acabei de o ler algures em Setembro e nunca mais disse nada. Como já lá iam uns meses, decidi lê-lo novamente e dar, finalmente, a minha opinião sobre a obra. Ao AA, agradeço o post-it.
The Che Guevara Myth and the Future of Liberty tem na capa o inefável Ernesto, com o seu ar de burguês radical very sixties que partiu corações na época e volta agora a partir os de muitos filhos dessa geração. Pequeno conjunto de 3 ensaios, com cerca de 70 páginas, The Che Guevara Myth tem como primeira parte a desmistificação do guerrilheiro argentino.
Tarefa relativamente simples para um historiador, Vargas Llosa limita-se a, páragrafo após parágrafo, descrever a personalidade colérica, fanática e sanguinolenta de Guevara, com base em entrevistas a pessoas que com ele contactaram e em documentos do domínio público, muitos deles de textos do próprio. Desmonta também a sua curta passagem pelo poder, em Cuba, onde, como governador do Banco de Cuba, responsável pela Reforma Agrária e ministro da Indústria conseguiu arrasar a indústria da cana do açúcar e conduzir o país para o racionamento - numa nação que fora, até poucos anos antes, a quarta mais rica da América Latina. Tido por quem trabalhou de perto com ele como "ignorante dos mais elementares princípios económicos", chegou a afirmar que em 1980 Cuba teria seguramente um PIB per capita superior ao dos Estados Unidos.
Como militar as suas opções deixam também muitas dúvidas. A sua passagem por África fica marcada pelo apoio a dois ditadores genocidas, Pierre Mulele e Laurent Kabila. Na América Latina, as revoluções fomentadas pelo movimento marxista conduziram apenas à instauração de ditaduras militares e populistas com consequências tremendas para a região.
A segunda parte, intitulada "Latin American Liberalism - A Mirage?" é, no fundo, uma tentativa muito interessante de justificar a deriva anti-liberal no sub-continente. A meu ver o melhor capítulo do livro, este identifica muitas das falhas culturais e institucionais e dos erros dos vários governos que fingiram liberalizar as economias, limitando-se a ceder a uma pequena elite a economia de Estado. Descrevendo acontecimentos muito semelhantes aos ocorridos também em Portugal nos últimos 30 anos, usa-os para justificar a incapacidade das economias para redistribuirem riqueza embora a criem, impedindo o desenvolvimento homogéneo e equilibrado das nações.
Finalmente a última parte, "The Individualist Legacy in Latin America" procura transmitir nos leitores uma mensagem de esperança, dando a conhecer alguns momentos de grande desenvolvimento da América Latina nos últimos 150 anos - em especial na Argentina - fruto de políticas liberais infelizmente destruídas por décadas de caudilhismo. Vargas Llosa reconhece também o mercado negro, com um enorme peso na economia latino-americana, como reacção popular à exploração que têm sofrido pelas elites que se apropriaram do Estado e da Justiça, mas que não os conseguirá tirar do patamar da subsistência por ausência de mecanismos de transparência e universalidade, só possíveis aos olhos da lei.
Uma obra curta, sintética e de fácil leitura, de um autor a quem o afastamento geográfico e a formação académica permitiram uma clarividência rara.
The Che Guevara Myth and the Future of Liberty tem na capa o inefável Ernesto, com o seu ar de burguês radical very sixties que partiu corações na época e volta agora a partir os de muitos filhos dessa geração. Pequeno conjunto de 3 ensaios, com cerca de 70 páginas, The Che Guevara Myth tem como primeira parte a desmistificação do guerrilheiro argentino.
Tarefa relativamente simples para um historiador, Vargas Llosa limita-se a, páragrafo após parágrafo, descrever a personalidade colérica, fanática e sanguinolenta de Guevara, com base em entrevistas a pessoas que com ele contactaram e em documentos do domínio público, muitos deles de textos do próprio. Desmonta também a sua curta passagem pelo poder, em Cuba, onde, como governador do Banco de Cuba, responsável pela Reforma Agrária e ministro da Indústria conseguiu arrasar a indústria da cana do açúcar e conduzir o país para o racionamento - numa nação que fora, até poucos anos antes, a quarta mais rica da América Latina. Tido por quem trabalhou de perto com ele como "ignorante dos mais elementares princípios económicos", chegou a afirmar que em 1980 Cuba teria seguramente um PIB per capita superior ao dos Estados Unidos.
Como militar as suas opções deixam também muitas dúvidas. A sua passagem por África fica marcada pelo apoio a dois ditadores genocidas, Pierre Mulele e Laurent Kabila. Na América Latina, as revoluções fomentadas pelo movimento marxista conduziram apenas à instauração de ditaduras militares e populistas com consequências tremendas para a região.
A segunda parte, intitulada "Latin American Liberalism - A Mirage?" é, no fundo, uma tentativa muito interessante de justificar a deriva anti-liberal no sub-continente. A meu ver o melhor capítulo do livro, este identifica muitas das falhas culturais e institucionais e dos erros dos vários governos que fingiram liberalizar as economias, limitando-se a ceder a uma pequena elite a economia de Estado. Descrevendo acontecimentos muito semelhantes aos ocorridos também em Portugal nos últimos 30 anos, usa-os para justificar a incapacidade das economias para redistribuirem riqueza embora a criem, impedindo o desenvolvimento homogéneo e equilibrado das nações.
Finalmente a última parte, "The Individualist Legacy in Latin America" procura transmitir nos leitores uma mensagem de esperança, dando a conhecer alguns momentos de grande desenvolvimento da América Latina nos últimos 150 anos - em especial na Argentina - fruto de políticas liberais infelizmente destruídas por décadas de caudilhismo. Vargas Llosa reconhece também o mercado negro, com um enorme peso na economia latino-americana, como reacção popular à exploração que têm sofrido pelas elites que se apropriaram do Estado e da Justiça, mas que não os conseguirá tirar do patamar da subsistência por ausência de mecanismos de transparência e universalidade, só possíveis aos olhos da lei.
Uma obra curta, sintética e de fácil leitura, de um autor a quem o afastamento geográfico e a formação académica permitiram uma clarividência rara.
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