Ideias Livres

quinta-feira, dezembro 22, 2005

A importância de ser Ernesto

Desde o final da minha adolescência que, pelo que havia lido sobre o assunto, chegara à conclusão de que Ernesto "Che" Guevara fora um terrorista.

Os factos são indesmentíveis: deambulou por vários países sul e centro-americanos e também pelo Congo, criando ou apoiando movimentos guerrilheiros de ideologia marxista-leninista, em países dominados, essencialmente, por ditaduras militares. Matou ou dirigiu soldados que mataram milhares de pessoas - muitas delas militares mas também civis - por defenderem ideias diferentes das dele(s). No único país em que a insurrecção conduziu ao golpe de estado - Cuba - o regime criado oprimiu mais o povo do que a ditadura de Fulgêncio Batista, dando origem a uma ditadura comunista em que, além de se proibir qualquer manifestação de oposição ao regime, se nacionalizou toda a economia, incluindo as terras cultiváveis, aumentando a miséria e a fome. Nas únicas experiências políticas que teve, Che manifestou ignorância e brutalidade, sendo responsável pelo extermínio de centenas de pessoas. Assim, nada leva a crer que pretendesse criar regimes melhores que aqueles que atacava pela via das armas. Na melhor das hipóteses, seria igual a eles, talvez apenas um pouco mais sonhador, quase religioso na sua fé revolucionária - o que fazia dele um homem mais perigoso, para todos, como se provou pelas centenas ou milhares de mortes pelas quais foi responsável.

Porém, sempre que exprimi estes factos a colegas e amigos de esquerda, olhavam para mim como para um herege, fruto da formatação a que foram sujeitos pelos media e pela esquerda mundial, que conseguiu sempre centrar a atenção nas atrocidades dos regimes vigentes nos países onde ele actuou e na beleza utópica de uma ideologia impraticável, que invariavelmente deu origem a regimes sanguinários, cujas atrocidades eram ocultadas e, quando descobertas, executadas em nome de um bem maior, numa reedição melhorada - para pior - da Inquisição.

Em Portugal, os mesmos que não se cansam de falar do assassinato de Humberto Delgado às mãos de operacionais da PIDE fecham os olhos aos milhares de vítimas de Che Guevara e compram t-shirts com o seu rosto aos filhos e netos, perpetuando uma mentira.

No fundo Che Guevara não tinha um raciocínio muito diferente do dos terroristas muçulmanos de hoje e daí a dificuldade da esquerda mundial em os condenar. Osama é um novo Guevara e tenho poucas dúvidas de que, caso seja capturado, dará origem a um culto semelhante ao que existe com o argentino em muitas partes do mundo. Che foi um romântico de sangue-frio, que arrastou para a sua perigosa utopia milhares de pessoas que pagaram com a vida tal imprudência e foi directamente responsável por centenas de mortes.

E, posto isto, o presidente do CDS-PP, Ribeiro e Castro, veio a público afirmar a responsabilidade da esquerda pela grande maioria dos movimentos terroristas mundiais e classificar Guevara como "um dos grandes assassinos do final do século XX". Acho a afirmação um pouco exagerada, tendo em conta as dezenas de casos mais graves a que temos assitido nos últimos 50 anos - basta relembrar Mao Tsé-Tung, Pol Pot, Ceausescu, as atrocidades da guerra dos Balcãs, o genocídio do povo timorense, os massacres no Ruanda e em muitos outros países da África sub-sariana ou os assassinatos perpetrados pelo regime de Pinochet. A meu ver foi apenas um vulgar assassino. E deve ser recordado como tal.

4 Comments:

  • Assassino, sim, mas vulgar é que não!!!
    De massas, romântico, épico, etc sei lá...
    Mas vulgar é que não!

    By Anonymous Anónimo, at 5:36 da tarde  

  • Concordo que Che não é o herói que o mito quer perpetuar. Mas acho que classifica-lo de terrorista não é o mais correcto. Foi um guerrilheiro (tal como Xanana o foi e os vietcongs o foram) que quis impor a via socialista por via das armas. O seu alvo primário foram as forças armadas e tendo depois passado à eliminação (selvagem) dos seus inimigos. Mas acho que esta actuação segue mais a lógica da guerrilha revolucionária que a do terrorismo. O terrorista ataca essencialmente alvos não militares, sem dar hipótese de defesa, com o fim de criar um clima de medo que só cessa se este conseguir atingir os seus objectivos. Para que o medo se instale é necessário que o alvo não seja previsível nem tenha forma de se defender. O guerrilheiro é um militar com uma grande economia de meios e que, por utilizar o efeito surpresa para colmatar a sua inferioridade de meios, tem semelhanças com as estratégias terroristas.

    Nada impede que alguém seja simultâneamente terrorista e guerrilheiro (Al-Qaeda, por exemplo) mas acho que o Che se encaiza mais na categoria de guerrilheiro (facínora).


    Nuno

    By Anonymous Anónimo, at 2:29 da tarde  

  • Aquí se queda la clara,
    la entrañable transparencia,
    de tu querida presencia
    Comandante Che Guevara.

    Seguiremos adelante
    como junto a ti seguimos
    y con Fidel te decimos:
    hasta siempre Comandante.

    By Anonymous Anónimo, at 2:46 da tarde  

  • o teu link da ignorância do Che n funcemina...

    By Anonymous Anónimo, at 6:03 da tarde  

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