Ideias Livres

sexta-feira, novembro 25, 2005

O dia que marcou a minha vida

Faz hoje 30 anos que um (contra) golpe pôs termo a uma marcha perigosa para o abismo do populismo militar de inspiração marxista e repôs o objectivo inicial de muitos dos mentores do 25 de Abril: uma democracia parlamentar de cariz liberal. Um grupo de corajosos militares, apoiados por uma maioria silenciosa confirmada poucos meses depois pelo voto popular, impediram o que poderia ter sido o equivalente português da Revolução de Outubro russa.

Ora acontece que os meus pais, jovens apaixonados e recém-casados, me haviam já concebido. Naquele dia do fim de Novembro, andava eu a tentar diferenciar os meus tecidos, a meio da minha gestação, envolvido por uma suave almofada materna, quase alheio ao que se passava lá fora não fosse aquele cordão por onde, além dos nutrientes essenciais ao meu desenvolvimento, passavam também muitas das emoções e sobressaltos que a minha mãe ia vivendo. Nesse dia, que foi de enorme alegria para todos os que pretendiam viver em liberdade e ainda mais para quem transportava no útero um grão de areia de uma nova geração de portugueses, recebi seguramente muitas das alegrias vividas pelos que me são mais queridos.

Ninguém sabe o que teria acontecido se o golpe de 25 de Novembro não tem existido. Podíamos ter vivido uma guerra civil, com um país partido ao meio, ou podíamos ter sido durante anos uma autocracia das bananas, prolongando o nosso atraso e fazendo de nós uma Albânia atlântica. Olhando para trás, até ao limiar da minha existência, apercebo-me de todos os erros que temos feito. E de tantos que, felizmente, não fizemos. Citando Ortega y Gasset numa das melhores justificações para as idiossincracias humanas, digo que "eu sou eu e as minhas circunstâncias." E nenhum dia, isoladamente, terá marcado mais as nossas circunstâncias do que aquele 25 de Novembro de 1975.

2 Comments:

  • Para uma pessoa que na altura andava à volta para encaixar as sua primeiras células no local certo, escreveu um comentário sobre o 25 de Novembro com muita acutilância. Os meus parabéns

    António Arruda

    By Blogger Arruda, at 4:55 da tarde  

  • Embora não haja "ses" em História os que vivemos aqueles tenebrosos e intolerantes dias do PREC nãso podemos, por vezes, de os colocar. Que teria acontecido se a camarilha soviético- revolucionária (mais uma originalidade portuguesa, a aliança PC pró-soviético com as facções pró-chinesa e pró-albanesa)tivese alcançado efectivamente o poder ? Ou como comentava há dias um dos expoentes do gonçalvismo-comunismo (Varela Gomes) as acções desenvolvidas apenas o foram para ganhar o tempo suficiente para o MPLA (mais cubanos, mais russos) tomar o poder em Angola, eliminando os os 2 movimentos, tudo isto, claro, com a ajuda inexcidíevel do almirante vermelho (Rosa Coutinho)?

    By Anonymous Anónimo, at 11:59 da manhã  

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