Ideias Livres

terça-feira, novembro 22, 2005

Doce globalização

A Comissão Europeia propôs aos seus membros, no âmbito de negociações com a Organização Mundial do Comércio, a diminuição de 39% do preço interno do açúcar. Por miúdos, isto significa, para quem não sabe, que o preço mínimo do açúcar na União Europeia se encontra tabelado, impedindo todas as indústrias que o usam como matéria-prima de aumentarem a sua competitividade (algo me diz que essas, por sua vez, também terão um subsídio para fazer face a este problema...). Este preço mínimo consegue-se pela imposição de quotas e pesadas tarifas aos produtos importados de fora da União Europeia.

Como este sistema de subsídios desvirtua totalmente o mercado europeu de produção de açúcar, os produtores europeus, altamente subsidiados, não sabem bem o que fazer a tanto açúcar e desatam a exportar, apoiados pelos chorudos financiamentos, agravando ainda mais a situação dos países em vias de desenvolvimento, à custa do nosso dinheiro.

Acontece que a OMC recebeu, da parte de alguns países - Brasil, Tailândia e Austrália - uma queixa contra a União Europeia e esta tem até Maio para corrigir este esquema escandaloso de proteccionismo. É uma pena que tenham sido terceiros e não os cidadãos europeus a apresentarem esta queixa, pois todos nós temos sido prejudicados por este sistema, que não sucede apenas com o açúcar, mas com milhares de outros produtos agrícolas e industriais.

Porém, sem qualquer pudor ou vergonha, vemos os ditos agricultores europeus, aberrações económicas que apenas conseguem sobreviver em cativeiro, alimentados com o nosso sangue, a protestar a viva voz contra a "espiral descendente dos preços"! E, como se não bastasse, estas medidas libertadoras têm ainda a oposição de quase metade dos países da UE, entre os quais se encontra Portugal...

Esperemos que a OMC não ceda e que a UE seja, de facto, obrigada a baixar a guarda, para bem de todos os europeus - inclusivé daqueles que, com medo da luz, se enclausuram nas grutas escuras da injustiça.