Ideias Livres

terça-feira, março 31, 2009

O caminho errado

A ler o artigo do prof. Alberto Castro no Jornal de Notícias, sobre o regresso dos amnésicos e cujo o título faz lembrar Hayek.

"Daí até reaparecerem os profetas da estatização vai um passo. Em Portugal têm terreno fértil, preparado por 48 anos de desconfiança no mercado e 3 em que foi diabolizado. Pouco importa que, onde vingou, a doutrina tenha gerado atraso económico, pobreza e falta de liberdade política. Pormenores. Estamos a falar de Fé, com letra grande. Fé no Estado. Nos homens providenciais que o hão-de comandar. Ocupar. Usar.
[...]
Esta crise coloca novos desafios à intervenção do Estado. Certo. No caso português, essa intervenção está condicionada. Não por haver Estado a menos, mas por já termos Estado a mais. Fosse mais pequeno e, sobretudo, menos caro e o Governo teria uma margem de manobra que hoje não tem. Acenar com mais Estado, como panaceia futura, é irresponsável. A não ser que a ideia seja reeditar modelos de socialismo num só país. Cuba na melhor das hipóteses. Coreia do Norte, na pior. "

sexta-feira, março 20, 2009

Dois pesos, duas medidas?

Indirectamente - via comentário no Insurgente - acabei por focar um tema que me tem interessado bastante nos últimos tempos, até por ter feito uma pós-graduação em Controlo de Gestão e Performance, onde a questão da correcta alocação de incentivos está sempre presente.

Um dos grandes argumentos usados por muitos contra o sistema de remuneração variável das empresas prende-se com o aparente imediatismo destes face a decisões que podem demorar anos a ter efeitos, positivos ou negativos.

Ora, há aqui duas questões muito importantes:

1. Imaginem que a AIG até tem um sistema de remuneração que se baseia nos resultados acumulados dos últimos 10 anos. Seria um sistema mais sustentável e justificável do que um que apenas reflecte resultados do último exercício. No entanto, esse sistema pode originar chorudos bónus em ano de grandes perdas. Em que ficamos?

2. Imaginem agora que alguém se lembra que os políticos, que tanto têm criticado os gestores por não sentirem na pele o impacto dos seus actos de gestão, são os primeiros a tomar decisões - como estes bailouts, a suportar durante décadas - cujas consequências nunca sofrerão na pele. Vivem do imediatismo do voto popular e não das reais consequências dos seus actos. Em que ficamos?

quarta-feira, março 04, 2009

Regresso ao Passado

O lento regresso ao passado colectivista parece continuar. Na Rússia, “The Whisperers: Private Life in Stalin’s Russia”, o mais recente livro de Orlando Figes, autor premiado de "A People's Tragedy: The Russian Revolution: 1891-1924", viu a sua publicação impedida por falta de editor, alegando-se dificuldades financeiras, mas Figes não tem dúvidas em apontar o dedo ao Kremlin. De facto, Putin tem vindo a promover uma higienização da história da Rússia, como já tinha ficado demonstrado, entre muitos outros, aquando do episódio do novo manual escolar oficial de História Contemporânea da Rússia, ocorrido em 2007.

Se calhar mais do que em qualquer outro período da História a leitura de "O Caminho para a Servidão", de Friedrich Hayek (recentemente republicado em Portugal pelas Edições 70) faz todo o sentido. Assistimos ao ressurgir de movimentos colectivistas, de discursos nacionalistas - lembro-me do êxtase encenado de José Sócrates no último fim de semana quando apelidava o Partido Socialista de "partido patriótico" - e ao despudorado convergir de interesses entre movimentos socialistas (Venezuela, Cuba) e movimentos nacionalistas (Rússia, Irão, Líbia). Claro que todos eles são diferentes, dadas as características autóctones dos mesmos mas todos partilham ideiais comuns: o ódio pela liberdade individual, pelo sucesso anónimo dos indivíduos, pela liberdade que emerge do caos criativo.

Infelizmente, não é apenas nestes países que assistimos a estas tendências, as quais se têm generalizado mesmo nos chamados países ocidentais, onde a cada vez maior influência do Estado e, por arrasto, das elites políticas, tenderá a um acentuar da concentração de poderes. Nos últimos seis meses, através de nacionalizações e "bail-outs", vimo-nos perder alguma da pouca liberdade que havíamos conquistado lentamente nas últimas décadas, apesar do permanente fervor legislativo e regulatório, que teima em nos enredar em processos burocráticos e não produtivos. O fruto do nosso trabalho é uma componente fundamental da nossa liberdade pois é na sua criação que passamos a maioria da nossa vida o e tem sido hipotecado de forma espúria pelo poder político. O permanente crescimento da dívida pública é uma prisão sem cela para todos, presentes e futuros.

Como Hayek tão bem descreve, os movimentos nacionalistas (como o foram, de forma extrema, os Fascistas em Itália e os Nazis na Alemanha ou, de forma moderada, Franco e Salazar na Península Ibérica) são a vanguarda dos movimentos utópicos internacionalistas, socialistas e comunistas. A impossibilidade prática da utopia internacionalista leva o movimento colectivista a fechar-se sobre um grupo socio-culturalmente mais homogéneo, onde consegue uma maior estabilidade. Nesse sentido, o estalinismo foi em si uma consequência lógica do leninismo e com muito poucas diferenças face ao nazismo alemão.

Assim se compreende o respeito de Putin, um nacionalista autoritário, por Estaline. Porque, como Hayek também salienta, para os movimentos colectivistas os fins justificam sempre os meios, independentemente da brutalidade dos mesmos.