Ideias Livres

sexta-feira, setembro 26, 2008

O assalto de Paulson

Excelente e vivamente recomendado o artigo de Luigi Zingales, professor na Universidade de Chicago, sobre o subsídio a fundo perdido proposto pelo Tesouro para supostamente salvar a América e, por arrasto, o mundo, da famina e da doença, intitulado Why Paulson is Wrong.

Na memória fica em especial o último parágrafo:

The decisions that will be made this weekend matter not just to the prospects of the U.S. economy in the year to come; they will shape the type of capitalism we will live in for the next fifty years. Do we want to live in a system where profits are private, but losses are socialized? Where taxpayer money is used to prop up failed firms? Or do we want to live in a system where people are held responsible for their decisions, where imprudent behavior is penalized and prudent behavior rewarded? For somebody like me who believes strongly in the free market system, the most serious risk of the current situation is that the interest of few financiers will undermine the fundamental workings of the capitalist system. The time has come to save capitalism from the capitalists.

Este é um daqueles momentos que acontecem uma vez por geração, que permitem separar o trigo do joio. E os verdadeiros apoiantes de uma economia de mercado livre, justa, responsabilizadora e transparente de um pseudo-capitalismo corporativista conluiado com a elite política - uma versão light das oligarquias dos regimes comunistas.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Podes roubar mas com juizinho...

Anteontem pudemos ver nos telejornais o representante da ANAREC, Augusto Cymbron, ladeado pelo ciber-Secretário de Estado José Magalhães, apelando à costela demagauche (neologismo acabado de criar que pretende aliar por contracção demagogia e gauche) dos assaltantes de postos de combustível.

Assim, Cymbron chamava a atenção para o facto de estes assaltos, que se multiplicaram nas últimas semanas, não irem apenas ao bolso das grandes petrolíferas mas também do pequeno comerciante e distribuidor, pondo em causa os seus postos de trabalho. Este tipo de afirmações evidencia o status quo ideológico predominante.

Para Cymbron (e para José Magalhães, que assentia condescendentemente com a cabeça), o assaltante é um indivíduo ignorante e que não compreende as consequências últimas dos seus actos, pelo que há que fazer um trabalho de cariz educativo, explicando-lhe em horário nobre que este não é um novo Robin dos Bosques, moralmente chancelado pelo Governo com a sua pseudo-taxa homónima criada em Junho, mas um perigoso destruidor de postos de trabalho ou seja, está inconscientemente, do lado errado da luta.

Ao agravar o impacto destes assaltos pelo facto de poderem pôr em causa postos de trabalho, este senhor está a orientar os assaltantes para crimes em que não estejam em causa empregos e dêem melhor retorno como, por exemplo, assaltar casas de luxo ou bancos, raptar empresários ou roubar Mercedes e BMWs. O problema parece não estar na violação da lei mas da regra moral da redistribuição de riqueza. No fundo, o regresso do mote PREC “os ricos que paguem a crise”.