Ideias Livres

terça-feira, abril 03, 2007

L(Ota)

A fazer fé na informação relativa à passagem de um curso de água na zona prevista para uma das pistas do projectado aeroporto da Ota, poderemos estar na presença de uma infra-estrutura com duas valências: das 8.00 às 24.00 será aeroporto, podendo das 24.00 às 8.00 funcionar como Lota.
Consigo até imaginar o pórtico de entrada:

De dia - "Aeroporto da LOTA"
De noite - "Aeroporto da LOTA"

Quem sabe não é assim que o ministro Mário Lino tenciona dar a volta aos números e provar a sustentabilidade económica do projecto? No fundo, bastará transferir para a Ota todas as lotas de peixe de Sines até Aveiro (nada de estranho, visto que a própria Ota só é viável forçando o encerramento da Portela).

É verdade que não há muito peixe naquela zona, tirando o que se passe a retirar do dito curso de água e o que se traga do Tejo, ali bem perto. Mas a verdade é que gente também é coisa que não consta que tenham nos arredores, o que não parece impedir o governo de nos obrigar a fazer 60 km para apanhar um avião para o Porto ou para Madrid...

segunda-feira, abril 02, 2007

Mullah Chávez

Infelizmente, todos os passos do caminho para a servidão vão sendo percorridos na Venezuela, enquanto o povo não se revolta de vez.
Desta feita, o papá (ou mullah) Chávez decidiu proibir todos os seus filhinhos de consumirem álcool durante a Páscoa, impondo a lei seca, com a justificação da diminuição da sinistralidade rodoviária.

Este é, outra e outra vez, o caminho do socialismo: a incapacidade de comprender a condição humana, por estar demasiado compenetrado nas suas utopias. Por não lhe agradar o Homem que vê, idealiza um outro, inexistente e inalcançável, que apelida de "homem novo". Um disparate antropológico. Sendo o Homem feito de pedra e não de barro, só o moldam à força das armas e das proibições. Foi assim na Rússia, na China, na Europa de Leste, na Coreia, no Vietname, em Cuba, no Zimbabwe, agora na Venezuela. Regimes totalitários e populistas, com subtis diferenças de acordo com a realidade cultural do meio e dos intervenientes - mais mecânicos e frios ou mais messiânicos e peronistas.

O desfecho é sempre o mesmo: Miséria, material e intelectual.

Pequenos Portugueses

A RTP, à custa dos votos em Salazar e Cunhal, terá amealhado respectivamente 34.000 e 16.000 euros. Somando-lhe 35% de margem para as operadoras de telecomunicações, os votantes nestas duas figuras da nossa história contemporânea terão gasto 77.000 euros neste concurso.

Conhecendo a justificação que alguns opinion makers deram para os resultados desta votação ("o capitalismo selvagem, sem quaisquer regras, que destrói os empregos e espalha a miséria...") não deixa de haver uma enorme ironia na forma como um concurso verdadeiramente capitalista, em que os votos eram comprados, acabou por ser vencido por dois fortíssimos opositores do capitalismo e das sociedades liberais do Ocidente. Na verdade, muito pouco separa a posição de ambos. A defesa de um Estado forte, controlador e paternalista norteia ambas as ideologias, corporativista e comunista. O colectivo sempre à frente do indivíduo, esmagando as suas criações egoístas e imprevistas em nome de uma planificação inflexível dos destinos da nação. Uma elite omnisciente com o monopólio das ideias, já de si pré-definidas pela nomenclatura do regime e que esmaga a diferença e a originalidade.

Foram estas ideias, defendidas durante décadas, antes e depois do 25 de Abril, que nos conduziram à mediocridade e nos encostaram às cordas. São elas que continuam hoje a amarrar-nos ao passado, impedindo-nos de enfrentar os desafios colocados por um mundo global e desafiante, seja pela defesa dos interesses corporativos ou pelo despertar de medos xenófobos. Ao defenderem regimes totalitários, estes dois senhores limitaram-se a ter a sua grandeza proporcional à pequenez em que transformaram a mente do povo que os rodeava.